Processual > Os 'negócios da China' de Francisco Guerra e outras aventuras


História de um assalto que Guerra, no programa da manhã da TVI, negou ter feito

Como a imagem digitalizada não tem leitura, transcrevemos, a seguir à imagem e em formato Word, o que foi publicado em duas páginas de "O CRIME"

 

Autor do livro "Uma Dor Silenciosa" e uma das vítimas da pedofilia da Casa Pia usou uma faca de cozinha do próprio estabelecimento para concretizar o crime e fugiu no carro da namorada de outra testemunha do processo Casa Pia.

Francisco Guerra, uma das principais testemunhas do processo da alegada rede de pedofilia que operava na Casa Pia de Lisboa e conhecido como o suposto braço-direito do ex-motorista daquela instituição, Carlos Silvino, foi detido na sequência de um assalto a uma loja de artigos chineses em Talaíde, Cascais, ainda com o julgamento a decorrer e que culminou na condenação de seis dos sete arguidos a penas de prisão efectiva compreendidas entre os 5 e os 18 anos, entre os quais se encontra o ex-apresentador televisivo Carlos Cruz, condenado a 7 anos. O caso foi investigado por agentes da Esquadra de Investigação Criminal de Cascais e Francisco Guerra acabou por ser detido, mas acabou por ser de imediato posto em liberdade, tendo o processo baixado para inquérito, uma fase processual que já terminou sem que tenha ainda sido realizado o respectivo julgamento e se conheça a respectiva acusação.

Segundo "o Crime" apurou, Francisco Guerra deslocou-se à loja chinesa "Hao Ge", de que era cliente habitual, no dia 12 de Fevereiro de 2009, a fim de esco [aqui há um corte do parágrafo faltando a conclusão da palavra ou palavras] dias depois se celebrava precisamente o "Dia dos Namorados". A testemunha do processo Casa Pia terá pegado numa faca de cozinha à venda no estabelecimento, forçando depois a empregada, sob a ameaça da arma, a dar-lhe o dinheiro da caixa e a abrir a montra de uma espécie de joalharia, de onde terá retirado alguns objectos. Depois colocou-se em fuga num Seat Ibiza cinzento, pertencente à namorada de outra testemunha fulcral do mediático processo.

Uma testemunha ocular do assalto conseguiu retirar a matrícula da viatura e os agentes da PSP localizaram a legítima proprietária do Seat, que de imediato foi confrontada com o crime. Descobriu-se, então, que o carro tinha sido adquirido por Francisco Guerra, permanecendo ainda no nome de Ana Cristina Santos porque o assaltante não pagava as prestações combinadas. Quatro dias depois, Francisco Guerra foi detido pela PSP em pleno Hotel Riviera, em Carcavelos, onde trabalhava e de onde acabaria por ser despedido. Sujeito a um reconhecimento na esquadra policial, a vítima do crime reconheceu de imediato o homem que a ameaçou com uma faca.

O caso baixou para inquérito e correu termos no Tribunal de Cascais, mas passados mais de dois anos sobre a ocorrência constante do processo nº 197/09.4TBCSC ainda não teve desfecho.

Carro desaparece

Por resolver permanece a situação do carro. É que antes de usar a viatura no assalto e de passar abusivamente na Via Verde - cuja facturação foi enviada à dona do carro para pagamento -, Francisco Guerra ainda acusou o companheiro desta e também testemunha do processo de pedofilia de lhe ter furtado o carro, pelo que este acabaria por ser apreendido pela PSP que deu cumprimento a um mandado de apreensão. A denúncia do crime foi apresentada na GNR de Alcabideche, que, desta forma, aceitou uma queixa de furto qualificado de uma viatura feita por uma pessoa (Francisco Guerra) que não era dona do bem, uma vez que o Seat nunca esteve em nome de Francisco Guerra. O Ministério Público acabaria por arquivar o processo 196/09.6GACSC, uma vez que Francisco Guerra não tinha legitimidade para reclamar o carro.

"É incrível como ele conseguiu participar um furto de uma coisa que não era dele e a GNR de Alcabideche aceitar a queixa e mandar apreender o carro. Aquilo que aconteceu foi o meu namorado, que é testemunha como ele do processo Casa Pia, ter decidido ir buscar o carro com uma segunda chave que eu ainda tinha em meu poder. O mais incrível é que a PSP depois acabou mesmo por apreender a viatura. Depois, na minha boa fé, voltei a entregar-lhe o carro, porque ele prometeu pagar tudo e ele, dias depois, usou-o na ida à loja chinesa.. Nunca mais vi o meu Seat", explicou a "o Crime" Ana Cristina, a proprietária da viatura.

Ana Cristina ficou assim, sem carro e continua a pagar as prestações da viatura como se ainda a tivesse na sua posse. A queixosa já por várias vezes tentou obrigar Francisco Guerra a pagar o que lhe deve (cerca de 10 mil euros), mas as diligências feitas nesse sentido, a última das quais realizada na passada semana, num encontro entre ambos, patrocinado por Olga Miralto, funcionária da Casa Pia e adjunta da ex-provedora Catalina Pestana, têm-se revelado infrutíferas, com a testemunha do processo a prometer sucessivamente o pagamento da dívida, mas a não cumprir, segundo revelou Ana Cristina: "Ele comprometeu-se nessa reunião com a drª. Olga a pagar tudo. Nomeadamente o valor em dívida do carro e ainda as utilizações abusivas da Via Verde, tudo num valor superior a 10 mil euros. Disse-me que passados uns dias o advogado dele entraria em contacto comigo, mas até hoje (terça-feira passada) ninguém falou comigo. Não vejo outra alternativa que não seja participar civil e criminalmente contra ele."

Azar com chineses

Francisco Guerra tem azar com negócios da China. É que já este ano foi protagonista de um episódio numa loja chinesa da Avenida Duque de Loulé, em Lisboa, onde terá tentado fazer uma compra com uma nota falsa de 20 euros. Foi o próprio Francisco Guerra a entregar a nota à PSP, apresentando-se como lesado, mas sem conseguir identificar a pessoa que lhe passou a nota falsificada, que não passava de uma simples fotocópia a cores. O caso está em investigação.

Pendente está igualmente outro processo a correr termos judiciais, onde a testemunha/vítima do processo Casa Pia é suspeita de envolvimento num furto a um "stand" de automóveis da região da Grande Lisboa, no ano passado, de onde terá sido levada uma viatura e um cheque de centenas de euros que terá sido levantado, segundo as autoridades, por Francisco Guerra. Também este crime permanece em investigação.

Livro é um sucesso

O livro "Uma Dor Silenciosa" lançado por Francisco Guerra sobre o processo da alegada rede de pedofilia da Casa Pia de Lisboa, semanas depois de ser lida a sentença que condenou seis dos sete arguidos, está a revelar-se um sucesso e já vai na segunda edição, com mais de uma dezena de milhares de exemplares vendidos.

No livro, Francisco Guerra relata a sua infância sofrida e os abusos de que diz ter sido vítima por parte dos arguidos do processo. Isto, apesar de o tribunal ter chegado à conclusão de que o autor não terá sido vítima de abusos, mas sim "vivenciado" as experiências das outras vítimas, de quem era amigo. O colectivo de juízes liderado por Ana Peres considerou, no entanto, as suas declarações importantes para sustentar a "ressonância da verdade" que viria a ser um dos fundamentos da sentença.

Esta testemunha/vítima, que completou 25 anos em Outubro de 2010, está referenciada nos relatórios sociais da Casa Pia como sendo "mentiroso, com tendência para a enfabulação, problemático e conflituoso. Já com o processo em curso, e beneficiando de medidas excepcionais de protecção, Francisco Guerra transformou-se num sério problema para os responsáveis do Centro Jovem Tabor, em Palmela, onde esteve internado algum tempo. Acabou por ser retirado do local, a pedido dos responsáveis da instituição, porque, entre outras coisas escritas num documento a que "o Crime" teve acesso e remetido ao juiz Rui Teixeira, que dirigiu a fase de inquérito, "dominava por completo os utentes mais novos e frágeis, sujava a cama e a roupa interior com fezes, misturando-a com roupa limpa, recusava que se limpasse o seu quarto". Foi então transferido para um lar de idosos em Odivelas, local onde se destacou, segundo queixas dos funcionários do lar às autoridades, por burlar os utentes do espaço, "subtraindo-lhes cheques e falsificando as assinaturas dos idosos" para assim conseguir obter dinheiro.

Mais tarde foi sócio do restaurante "Trovador" em Talaíde, Cascais, de onde acabaria por sair em conflito com o outro sócio. No livro, Francisco Guerra garante ter sido enganado pelo sócio, mas não apresentou qualquer queixa contra ele.

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Nota minha: A dona do carro, Cristina, é a companheira de Ilídio Marques.
Neste site pode encontrar vários artigos sobre Francisco Guerra nomeadamente uma análise à entrevista que deu a Judite de Sousa. Não acrescento por enquanto mais nada embora ainda haja muito para dizer. O que farei em devida oportunidade