> A Ficção da Casa de Elvas

Sobre a completa ficção que é a história de Elvas sei o que já é público: Carlos Silvino era daquela região e que lá se deslocava no Verão para tocar em festas, segundo as suas próprias declarações.

Sei também que este processo se origina em Agosto de 2001, na sequência da queixa-crime apresentada pela mãe de Fábio Cruz com origem em acontecimentos que aí se teriam passado.

"Joel" como ficou conhecido na imprensa, disse à mãe que Carlos Silvino tinha abusado dele durante um fim-de-semana em que ambos foram a um casamento no Alentejo. O casamento realizou-se em Vila Viçosa, perto de Elvas.

O convite feito por Carlos Silvino a Joel para passar o fim-de-semana em Elvas foi amplamente publicitado pela comunicação social durante o mês de Dezembro de 2002, após a prisão de Carlos Silvino.

Ao contrário de Francisco Guerra e JPL, as outras testemunhas deste processo à altura, LM, no seu primeiro depoimento à Policia Judiciária em Janeiro de 2003, referia também ter sido convidado para passar o fim-de-semana com Carlos Silvino, Francisco Guerra e JPL a Elvas.

LM, a 16 de Janeiro de 2003, no seu primeiro depoimento afirma "Lembra-se que certo dia o Bibi lhe perguntou se queria ir passar o fim-de-semana com ele. O depoente aceitou...".

LM não mais viria a referir este convite, pois a partir deste depoimento passa a afirmar que iam e vinham no mesmo dia tal como os demais assistentes já referiam. Os leitores tirarão as suas conclusões.

Uma coisa é certa: provo que nunca estive em Elvas com documentos oficiais incontornáveis e indesmentíveis -listagens BTS (antenas activadas pelo telemóvel), Vias Verdes, talões de cartões de crédito com a minha assinatura, confirmação dos mapas de gravação dos programas "Quem quer ser Milionário" e "Febre do Dinheiro", etc. Tudo oficial.

Cruzando todos estes documentos, consegue-se reconstituir os meus percursos e os locais onde estive. Eu próprio fiquei surpreendido com tanta certeza.

Por outro lado, a acusação não consegue uma única testemunha que me coloque em Elvas nem a nenhum dos meus co-arguidos.

E ouvindo as descrições dadas pelos assistentes, vendo os desenhos que fizeram (Elvas e Forças Armadas), vendo os vídeos dos reconhecimentos ao local, estacionamentos, conclui-se sem margem para dúvidas que aqueles rapazes também nunca estiveram naquela casa.

Abaixo segue o resumo de mais de meia centena de testemunhos entre os quais habitantes da cidade de Elvas, comerciantes, agentes da PSP da esquadra de Elvas, vizinhos, amigos, familiares, hóspedes e clientes de Dona Gertrudes.

Elvas tem cerca de 16 000 habitantes e a dona Gertrudes era ama da Segurança Social - cuidava de bebés de famílias que viviam e trabalhavam em Elvas.

O seu nome só surgiu após a minha prisão, depois da casa ter sido identificada, mas só após a investigação descobrir que aquela não era a casa de Hugo Marçal ao contrário do que tinha sido dito por algumas da vítimas.

Não há qualquer indício probatório de que eu tenha estado naquele local.

Ana Umbelina em a.j de 18 de Outubro de 2006

Vizinha de moradia geminada à casa de D. Gertrudes desde 1990

 

Dr. Silva - por causa da gravação. Dona Ana Umbelina a senhora disse à senhora Dra. juíza que vive em Elvas, onde precisamente?

Ana Umbelina - Na Rua Domingos Lavadinho, nº 20.

Dr. Silva - Nº20, essa casa é próximo da casa da Sra. Gertrudes Nunes?

Ana Umbelina - É encostada, mesmo.

Dr. Silva -  É encostada, é a casa geminada com a casa dela?

Ana Umbelina - É mesmo encostada à mesma casa.

Dr. Silva - Portanto são geminadas?

Ana Umbelina - É sim.

Dr. Silva - Dona Umbelina há quanto tempo é que a senhora vive ali?

Ana Umbelina - Eu vivo ali há 16 anos.

Dr. Silva - Há 16 anos.

Ana Umbelina -  Mas tenho a casa há 23 anos que eu vim da Alemanha há 16.

Dr. Silva - A senhora esteve emigrada na Alemanha

Ana Umbelina - Sim Sra.

Dr. Silva - E há 16 anos veio viver para ali já sendo proprietária da casa há mais anos.

Ana Umbelina - Há 23.

Dr. Silva - Dona Umbelina, durante este período todo, eu vou fazer-lhe agora a pergunta de outra maneira: a senhora sabe quem é o senhor Carlos Cruz?

Ana Umbelina - Eu conheci-o na televisão.

Dr. Silva - E fora da televisão alguma vez o viu ao pé?

Ana Umbelina - Fora da televisão nunca o vi. Não conheço não.

Dr. Silva - Nunca o viu?

Ana Umbelina - Não, não.

Dr. Silva - E a senhora conhece algum destes senhores que estão aqui sentados a trás. Este senhor, aquele, aqueles três senhores ali.

Ana Umbelina - Não, só conheço a minha comadre.

Dr. Silva - Pois a sua comadre. Eu perguntei senhores.

Ana Umbelina - Não conheço não.

Dr. Silva - Dos outros senhores nunca conheceu nenhuns?

Ana Umbelina - Não.

Dr. Silva - Dona Umbelina, alguma vez durante este período alguma vez viu lá estas caras?

Ana Umbelina - Não, nunca vi cara nenhuma.

 

Dr. Álvaro Pacheco em a.j. a 11 de Janeiro de 2007

Vizinho de D.Gertrudes desde 1983

 

Dr. Manuel Silva - Que ia cortar o cabelo. Doutor, das pessoas que estão aqui, além daqueles que referiu à Sra. Dra. Juiz, conhece algum destes senhores que são arguidos neste processo? 

Dr. Álvaro Pacheco - Portanto, a D. Gertrudes, o Dr. Hugo Marçal, só conheço o da comunicação social.

Dr. Manuel Silva - O Sr. Carlos Cruz, e aqueles três senhores?

Dr. Álvaro Pacheco - Não, só reconheço da comunicação social.

Dr. Manuel Silva - Dr., durante este período em que o Dr. fez ali a sua vida, o doutor viu alguma destas pessoas alguma vez lá?

Dr. Álvaro Pacheco - Só a D. Gertrudes como minha vizinha... de resto, não!

Dr. Manuel Silva - Designadamente o Dr. Hugo Marçal, alguma vez o viu ali? E essa era uma pessoa que o senhor conhecia!

Dr. Álvaro Pacheco - Sim, conheço da minha actividade profissional e da sociedade e, como sabe, Elvas é um meio pequeno e o hospital... o antigo hospital estava situado mesmo no meio da cidade. Portanto, sendo um hospital de antigas misericórdias, era um hospital que o bar tinha de ser fora, num dos bares circundantes ao hospital e, portanto, era nesse meio que a pessoa e que...

Dr. Manuel Silva - Espere aí, mas nunca recorda tê-lo visto nas cercanias da sua casa?

Dr. Álvaro Pacheco - Não, não me lembro, isto é, nunca vi!

Dr. Manuel Silva - E os outros senhores que disse aqui concretamente? Há um que é o Sr. Carlos Cruz que o senhor conhecia da televisão concerteza, não é?

Dr. Álvaro Pacheco - Sim.

Dr. Manuel Silva - Alguma vez o viu em Elvas, alguma vez o viu por ali?

Dr. Álvaro Pacheco - Não, nunca vi.

Dr. Manuel Silva - Portanto, doutor ao longo de todo este tempo nunca se apercebeu de nada que pudesse implicar estas pessoas num processo como este?

Dr. Álvaro Pacheco - Sinceramente não.

Dr. Manuel Silva - O senhor doutor tem conhecimento da comunicação social, concerteza!

Dr. Álvaro Pacheco - Sim.

Dr. Manuel Silva - Havia frequência da casa da D. Gertrudes por miúdos novos, tirando os filhos dos vizinhos, como referiu?

Dr. Álvaro Pacheco - Nunca vi nada nem... nunca!

Dr. Manuel Silva - Nunca se apercebeu de nada?

Dr. Álvaro Pacheco - Nunca me apercebi de nada!

Dr. Manuel Silva - Apercebeu-se de que houvesse, com habituação, carros pouco vulgares a estacionar ali na zona em frente a casa dela?

Dr. Álvaro Pacheco - Não, como dizia, normalmente, e agora nos últimos anos há, de facto uma maior frequência, mas nunca carros que chamassem à atenção do vulgar carro.

 

Prof. Hugo Pacheco em a.j. a 15 de Novembro de 2006

Vizinho de D. Gertrudes

 

Dra. Sónia Cristóvão - Sr. Professor Hugo conhece a D. Gertrudes desde há vintes anos, acabou de o referir, onde é que o Sr. Professor mora?

Professor Hugo Pacheco - (...) A minha residência oficial é na Rua Domingues Lavadinho, n.º 22 em Elvas.

Dra. Sónia Cristóvão - Em Elvas, e desde há quanto tempo é que mora ou morava na Rua Domingos Lavadinho, n.º 22?

Professor Hugo Pacheco - Desde que fui viver para Elvas, há vinte e quatro anos.

Dra. Sónia Cristóvão - Portanto, é o n.º 22, a sua casa é pegada com a casa da D. Gertrudes...

Professor Hugo Pacheco - É pegada.

Dra. Sónia Cristóvão - É a casa ao lado?

Professor Hugo Pacheco - É a casa ao lado, portanto, é geminada, é igual só que as escadas sobem em sentido diferente.

Dra. Sónia Cristóvão - E é em que, portanto a casa tem que... é no rés-do-chão, é no primeiro andar?

Professor Hugo Pacheco - A minha é, portanto, rés-do-chão, primeiro andar, é segundo andar e sótão.

Dra. Sónia Cristóvão - E em baixo de sua casa, mora alguém?

Professor Hugo Pacheco - Na casa de baixo, imediatamente abaixo não mora ninguém, mora no rés-do-chão.

Dra. Sónia Cristóvão - E no rés-do-chão quem é que mora?

Professor Hugo Pacheco - No rés-do-chão mora, portanto, ah... como é que hei-de dizer?! Antigamente morava um senhor que era o cabeleireiro, que neste momento mora ao lado e moram os familiares dele que é o pai e a mãe.

Dra. Sónia Cristóvão - Alguma vez viu entrar, estacionar, bater à porta, enfim, entrar pelo portão da D. Gertrudes alguma das pessoas que está aqui sentada?

Professor Hugo Pacheco - Não.

Dra. Sónia Cristóvão - Não. Alguma vez, imagino que desde que este processo se tornou público e se tornou num facto de conhecimento geral e, enfim, o seu prédio também, do conhecimento nacional, imagino que deva ter comentado com muitas pessoas sobre isto?!

Professor Hugo Pacheco - Sim, como é óbvio comentei. Até porque das primeiras situações ...

(...)

Dra. Sónia Cristóvão - Só para saber se houve comentário ou não... se alguma vez em conversa com pessoas, em cafés, em restaurantes em que se comentasse este assunto, agora ou na altura em que isto rebentou, se alguma vez ouviu dizer alguém ter visto o Sr. Carlos Cruz na cidade de Elvas? Ter visto o Sr. Carlos Cruz na proximidade de sua casa? Alguma vez ouviu isso a alguém? 

Professor Hugo Pacheco - Não, nunca ouvi. (...) Todas as pessoas com quem me relaciono de Elvas, com quem comentei, nunca ninguém mencionou tal facto.

Dra. Sónia Cristóvão - E alguma vez viu um grupo de jovens a entrar ali na casa da D. Gertrudes, ou a entrar ou a sair? (...) Em grupos de 4 a 9? Jovens com idades compreendidas entre os 14, 15?

Professor Hugo Pacheco - Não. A maior parte dos jovens que por ali andam são jovens da minha idade que andam por ali para jogar à bola nesse descampado em frente de casa. (...)

Dra. Sónia Cristóvão - E tem a certeza que nunca viu nenhuma das pessoas que aqui estão a descer a rua, a estacionar o carro, a entrar em casa da D. Gertrudes...? Jovens com, que não conhecesse, adolescentes em grupo a entrar ou a sair do prédio, do seu prédio, enfim... da casa ao lado?

Professor Hugo Pacheco - Sim, tenho a certeza.

 

Ana Mexia em a.j de 22 de Janeiro de 2007

Empregada doméstica da moradia geminada ao lado da casa de D. Gertrudes .

 

Dr. Manuel Silva - ... conhece a D. Gertrudes desde que foi para ali  trabalhar há cerca de 21 anos?

Ana Mexia - Exacto.

Dr. Manuel Silva - Trabalha aonde?

Ana Mexia - Em casa do Dr. Álvaro Gomes Pacheco.

Dr. Manuel Silva - Que reside...

Ana Mexia - ao lado da casa da D. Gertrudes .... na Rua Domingos Lavadinho nº 22.

Dr. Manuel Silva - E isso passa-se há 20 anos a esta parte aproximadamente?

Ana Mexia -Exactamente.

Dr. Manuel Silva - E ainda hoje lá trabalha?

Dr. Manuel Silva - Vamos centrar-nos no período que decorre desde 1999 a 2001. Trabalhava lá?

Ana Mexia - Trabalhava.

Dr. Manuel Silva - Qual era habitualmente o seu horário de trabalho? Quando é que entrava quando é que se ia?

Ana Mexia - Entrava sempre... 9... e saía sempre por volta da 8, 8 e meia.

Dr. Manuel Silva - Não vive lá...?

Ana Mexia - Estive uma altura permanente mas depois quando casei trabalhava à mesma nesse horário.... com  fins-de-semana.

Dr. Manuel Silva - Teve uma altura em que viveu mesmo lá?

Ana Mexia -Sim, sim.

Dr. Manuel Silva - Essa altura foi em que altura? Até casar?

Ana Mexia - Não, mas foi antes disso...  portanto, eu tinha 19 anos na altura quando eu fui para lá.... estamos em 2007... não é?..  (...) Em 88, não?

Dr. Manuel Silva - Em 88 vivia lá. Em 99 já não vivia, já estava casada.

Ana Mexia - Permanente não, já estava casada.

Dr. Manuel Silva - Portanto, qualquer pessoa ali que fosse estranha, além da clientela, a senhora também se apercebia?

Ana Mexia - Sim, sim.

Dr. Manuel Silva - Nunca viu lá ninguém destas, desta gente?

Ana Mexia - Nunca.

Dr. Manuel Silva -Conhece  os arguidos, os outros arguidos, da televisão?

Ana Mexia - Da televisão.

Dr. Manuel Silva - Alguma vez os viu por lá?

Ana Mexia - Não.

Dr. Manuel Silva -Mais nada.

 

Paula Monteiro em a.j. de 4 de Dezembro de 2006

Filha e vizinha de baixo da D. Gertrudes

 

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Onde é que a srª vive?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Na rua Domingos Lavadinho nº 24.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Há quantos anos vive aí?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Desde que...portanto nos estivemos muitos anos em França...voltamos...e desde que voltamos fomos morar para aquela casa.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Há quantos anos?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Desde 1986 que estamos a morar naquela casa. Posteriormente fiz os meus estudos em Lisboa, entrei em 1988 para a UNL, fiz os meus estudos até 1993, casei em Julho de 1993.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Mora no mesmo andar do que a sua mãe?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Não. Moramos no mesmo bloco, a minha mãe morava por cima e eu por baixo.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Quem suba para a casa da sua mãe...se tiver à janela...vê quem entra. Portanto.. de sua casa vê-se quem entra em casa da sua mãe?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Perfeitamente...temos janelas viradas para este lado, não se vê aqui pelo muro, mas temos janelas viradas para este lado.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Já agora...tem conhecimento de um cabeleireiro ou barbeiro que tivesse funcionado neste conjunto?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Sim..

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Onde?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Era deste lado...nesta fracção. Entrava-se por este portão mais pequeno...

Dr. Ricardo Sá Fernandes - É a fracção situada ao lado direito do sítio dos painéis...

Paula Pragana Nunes Monteiro - Exactamente... é uma fracção diferente... porque são casas geminadas

Juíza Presidente - Parede com parede...

Paula Pragana Nunes Monteiro - Exactamente... e correspondia ao R/C.

Dr. Ricardo Sá Fernandes -  E entrava-se pela porta do lado

Paula Pragana Nunes Monteiro - Exactamente... pela porta lateral que está por de baixo das escadas que aqui podemos ver.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Quem são as pessoas que vivem ali nessa fracção ali de baixo?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Os meus sogros...

Dr. Ricardo Sá Fernandes - E o cabeleireiro de quem era?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Do meu marido.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Desde quando é que o seu marido deixou de ter lá o cabeleireiro?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Desde 2001.

 

Dra. Marta Saramago - A sua sogra é sua vizinha também?

Paula Pragana Nunes Monteiro - É.

Dra. Marta Saramago - Onde é que mora?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Mora na fracção ao lado, correspondente ao R/C.

Dra. Marta Saramago - Se costuma ir a casa da sua mãe muitas vezes? Com que regularidade? Esta altura...reportamo-nos a 2001...

Paula Pragana Nunes Monteiro - Era com bastante regularidade... até porque os meus filhos estavam lá.

Dra. Marta Saramago - Era quase diariamente?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Sim.

Dra. Marta Saramago - E ao fim-de-semana também?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Também.

 

Dr. Ricardo Sá Fernandes - A sua mãe é uma pessoa para receber muitas visitas em casa e a senhora pudesse pensar que estavam lá umas visitas e afinal estavam lá estes homens a abusar de crianças. Podia isso acontecer? É uma pessoa que recebe muitas visitas que a senhora não conheça?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Não. As visitas... os amigos... as amizades da minha mãe, eu conheço perfeitamente e portanto se houvesse uma movimentação diferente com certeza que teria dado conta.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Portanto as pessoas que em 99, 2000 e 2001 que foram a casa da sua mãe que não fosse a senhora, o seu marido e os seus filhos, eram pessoas do seu conhecimento?

Paula Pragana Nunes Monteiro - Sim. Exactamente.

 

Carlos Luciano em a.j. de 7 de Janeiro de 2008

Genro da D. Gertrudes. Dono do cabeleireiro que funcionou na fracção da casa Elvas até Julho de 2001. Vizinho do R/C da moradia de D. Gertrudes desde 1993.

 

Dr. Ricardo Sá Fernandes -  As pessoas entravam por aquela porta lateral. E depois por dentro... como é que era o espaço?

Carlos Luciano - Entrava-se pela porta lateral, tinha  um corredor e depois virava outra vez à esquerda de onde estava o salão e onde tinha 2 janelas viradas para o logradouro que dava para a estrada.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Essas janelas estavam viradas para a estrada principal?

Carlos Luciano - Sim.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Quem estivesse dentro do cabeleireiro , via as pessoas?

Carlos Luciano - Sim. Quando estava lá dentro via até cá fora os clientes estacionar.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Essas janelas tinham cortinas?

Carlos Luciano - Não. Tinham só persianas que só se corriam quando se fechava o salão.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Durante o dia as persianas estavam abertas?

Carlos Luciano - Sim.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - e quem estivesse dentro do cabeleireiro via?

Carlos Luciano - Sim.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - E as cadeiras estavam viradas para onde?

Carlos Luciano - Em princípio quando montámos o cabeleireiro tentámos apanhar o mais de luz natural possível. Por exemplo aqui estão as duas janelas e o que é as bancadas de corte estavam assim à frente para apanhar a luz de fora, por isso é que eu lhe digo que quando estávamos a trabalhar viamos as pessoas passar.

 

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Como o Sr. sabe, a acusação neste processo sustentam que no 24, na casa da sua sogra, durante os anos de 99 e 2000, particularmente aos sábados à tarde, ocorreram abusos sexuais de menores praticados por grupos de homens 7...8.. e crianças em quantidade equivalente, e que entravam para lá e lá praticavam abusos e saiam. O Sr. acha que isso era possível? De acordo com o seu conhecimento concreto, não é pelo facto de acreditar na sua sogra ou nas outras pessoas...acha que era possível? Tendo ali um cabeleireiro aberto... de portas abertas...

Carlos Luciano - Bem...praticamente é impossível...não só por eu ter lá o salão..porque é uma rua de muito transito e ali há vários restaurantes muito procurados, como toda a gente sabe, pelos espanhóis que procuram Elvas para comer marisco e nós temos ali vários restaurantes. Era impossível se ali houvesse alguma coisa ninguém ver.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - O Sr. nunca viu ali nenhum movimento ali....?

Carlos Luciano - Não...ainda para mais você está a falar de até 2000 e eu residia já nesta altura...a partir de 93, no que é a fracção A e tinha a minha mulher que nem aulas tinha e um filho já....praticamente...

Dr. Ricardo Sá Fernandes - O Sr. nunca viu...nunca de apercebeu. O Sr. alguma vez viu estes 5 homens que estão sentados à sua frente?

Carlos Luciano - Não, a não ser pela comunicação social e além o Sr. Hugo Marçal, é que como é da terra, é normal, como estamos a falar de uma cidade de 16 mil habitantes...toda a gente se conhece.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - O Sr. Hugo Marçal ia ao seu cabeleireiro?

Carlos Luciano - Não. Ia o filho que tem vinte e poucos anos.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - O filho ia. Ele não?

Carlos Luciano - Não. Sinceramente não me lembro de lhe cortar o cabelo.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - O Dr. Ferreira Diniz, O Sr. Carlos Cruz, o Embaixador Ritto, o Dr. Manuel Abrantes, alguma vez os viu lá?

Carlos Luciano - Não. A não ser na comunicação social.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - E aquele senhor que está ali sentado...ao seu lado esquerdo?

Carlos Luciano - Não. Sinceramente, também não.

Dr. Ricardo Sá Fernandes - Quando esta história rebentou...o Sr. ficou boquiaberto?

Carlos Luciano - Ficámos todos...

Dr. Ricardo Sá Fernandes - A Sr. nunca viu nada de estranho...nada que pudesse associar a esta...?

Carlos Luciano - Nada..nada...naquela rua nada!

  

António Marmelo em a.j. de 22 de Janeiro de 2007

Assistente administrativo no Hospital de Santa Luzia de Elvas, residente de Elvas e frequentador da casa de D.Gertrudes, a sua filha ficou em casa de D.Gertrudes quando a mulher adoeceu

 

Dr. Manuel Silva - Alguma vez nas deslocações que fez a esta casa viu alguma frequência estranha ou constou-lhe alguma frequência estranha desta casa?

António Marmelo - Nunca, nunca, nunca, absolutamente nunca. Além disso o, devem saber, pronto, o genro da D. Gertrudes, o Carlos tinha cá por baixo o cabeleireiro  e eu comecei a frequentar devido á amizade que tinha com D. Gertrudes, cortar o cabelo, é lógico que aproveitava os sábados que era quando tinha, porque além da Ana tenho mais dois filhos, e aproveitava os sábados e as janelas do cabeleireiro estavam sempre abertas, nunca se via ali movimento nenhum, e tinha o vício de, muitas vezes levava os miúdos, deixava-os na casa da D. Gertrudes, quando cortava o cabelo, ia lá buscá-los. Portanto nunca houve ali...

Dr. Manuel Silva  - E esse cabeleireiro nesse período

António Marmelo - Nesse período

Dr. Manuel Silva - ... que o sr frequentou, trabalhava ao sábado?

António Marmelo - Trabalhava aos sábados à tarde, normalmente era o único dia que eu tinha de descanso e aproveitava para cortar o cabelo.

 

Drª. Maria João Costa - (...) nesses anos a seguir a ter deixado de estar na D. Gertrudes [a filha] era frequentar visitá-la

António Marmelo - Normalmente aos fins-de-semana, ou quando por exemplo a D. Gertrudes fazia anos, quando a Ana [é a filha dele] fazia anos.

Drª. Maria João Costa - E nos fins de faziam aos sábados, aos domingos, como é que era?

António Marmelo - Sábados, domingos. Entretanto a Paula começou também a ter os miúdos, que já tem três filhos... Paula, a filha da D. Gertrudes e um dos miúdos até faz anos quando eu faço anos (...)

Drª. Maria João Costa - Apareciam a qualquer hora do dia?

António Marmelo - Sim, sim, sim. Não tínhamos hora para ligar. Aquilo é como se fosse mais uma casa de família (...)

Drª. Maria João Costa - O senhor conhece as pessoas que estão aqui a ser julgadas?

(olha para trás para os arguidos)

António Marmelo - Conheço a minha "tia" , a "Titi" [refere-se a D. Gertrudes]

Drª. Maria João Costa - Mas o senhor viu estas pessoas em alguma circunstância?

António Marmelo - Conheço a "Titi", conheço a Hugo, lá de Elvas e os outros senhores só os conheço através da televisão.

Drª. Maria João Costa - Só os conhece

António Marmelo - Através da televisão.

Drª. Maria João Costa -  sr Carlos Cruz, o sr conhece?

António Marmelo - Da televisão.

Drª. Maria João Costa - Nunca viu estas pessoas ali na casa da D. Gertrudes nesse fins-de-semanas que lá ia ou em outra ocasião?

António Marmelo - Nunca.

Drª. Maria João Costa - E ali nas proximidades?

António Marmelo - Nunca.

Drª. Maria João Costa - Nunca.

 

Carla André em a.j. de 22 de Janeiro de 2007

Hospede de D. Gertrudes entre Outubro de 97 e Julho de 98

 

Dr. Manuel Silva - Foi inquilina da D. Gertrudes. Em que altura?

Carla André - Foi entre Outubro de 97 e Julho de 98. Não sei precisar bem os dias

Dr. Manuel Silva - Era inquilina de toda a casa? Como é que era

Carla André - Eu estava nas chamadas águas furtadas, estava a ocupar um quarto e essas águas furtadas tinham 3 quartos, uma casa de banho e uma cozinha e eu partilhava a cozinha e a casa de banho com outra colega que estava noutro quarto

Dr. Manuel Silva - Durante esse período esteve permanentemente em Elvas ou ficava em Elvas só parte da semana e saía?

Carla André - Ficava pelo menos de segunda a sexta e alguns fins-de-semana também passei lá.

Dr. Manuel Silva - Concretamente: conhece algum dos outros arguidos deste processo?

Carla André - Conheço alguns da televisão, não é?

Dr. Manuel Silva - Quem é que conhece da televisão?

Carla André - O sr. Carlos Cruz.

Dr. Manuel Silva - Alguma vez viu o sr. Carlos Cruz na zona?

Carla André - Não. Não.

Dr. Manuel Silva - dentro da casa ou até fora da casa?

Carla André - Não, não.

Dr. Manuel Silva - E os outros senhores (dos dois lados, atrás) ?

Carla André - Não.

 

Lucília Chambel em a.j. a 24 de Setembro de 2007

Hospede de D. Gertrudes de Outubro de 96 até Junho de 97 enquanto estudante e posteriormente entre Setembro de 98 a Julho de 99 juntamente com o marido...

 

Drª. Sónia Cristóvão - No período em que morou na casa da D. Gertrudes alguma vez se apercebeu de pessoas enfim estranhas à casa... que visitassem a casa e que não conhecesse ali da zona?

Lucília Chambel - Não. As únicas pessoas que via lá em casa era os pais das crianças que estavam por lá que acabava por conhecê-las porque eram pessoas que iam lá todos os dias e era familiares que vinham durante a Páscoa ou durante o Natal. De resto, não. Não via pessoas estranhas.

Drª. Sónia Cristóvão - E tem memória... já disse que não avisava quando saía... mas pode ter acontecido alguma  circunstância e eu perguntar-lhe ajudá-la-á a recordar. Tem memória de alguma vez a D. Gertrudes ter mostrado alguma preocupação em saber quando é que ia, se ia sair, quando voltava, se não ia estar...

Lucília Chambel - Não, não, não.

 

Orlanda Póvoa em a.j. de 17 de Setembro de 2007

Hospede de D. Gertrudes desde Dezembro de 2000 até Setembro de 2003

  

Dr. Sá Fernandes  - Srª Drª como sabe, é do domínio público, a acusação que é aqui representada por este senhor Procurador que está aqui ao meu lado esquerdo, sustenta que na casa da D. Gertrudes se praticavam aos fins-de-semana, que partilhavam, designadamente aos  fins  de semana, abusos sexuais praticados designadamente por estas pessoas que estão aqui à sua frente... Pela experiência que a srª tem, do convívio que teve com a D. Gertrudes pelo facto de ter lá vivido na casa, entre Dezembro de 2000 e 2003 acha que isso é plausível, pelo conhecimento concreto que teve da vivência da casa.... estou a perguntar-lhe isto uma vez que a srª drª viveu na casa, esteve lá muitos fins-de-semana...  acha que isso seria  possível?

Orlanda Póvoa - Impossível nunca se pode dizer que não é. Daquilo a que eu assisti acho muito improvável porque de facto eu não assisti a indício algum durante a minha estadia, nem sequer o comportamento quer da D. Gertrudes quer do resto da família me leva a pensar que isso seria algo facilmente digerível se é que me faço entender. Eu estou convicta que de facto, pelo menos durante o período em que eu lá estive, aquilo que é minha testemunha, não se passou nada. Todos os indícios que eu tenho pessoais me levam a acreditar que de facto não se passou nada. Aquilo que eu não vi, aquilo a que eu não assisti, não posso obviamente testemunhar.

 

Drª. Maria João Costa - Sabe quais são as pessoas que estão aqui a ser julgadas  juntamente com a srª D. Gertrudes?

Orlanda Póvoa - Pelas notícias, muito por alto (...)

Drª. Maria João Costa - Alguma vez viu alguma destas pessoas em casa da D. Gertrudes ou nas imediações?

Orlanda Póvoa - Não.

 

Ana Caldeira em a.j. a 10 de Outubro de 2007

Funcionária da Segurança Social de Elvas

  

Dra. Sónia Cristóvão - D. Ana Maria, além da D. Gertrudes conhece mais alguém aqui?

D. Ana Maria Caldeira - Conheço da televisão...

Dra. Sónia Cristóvão - Não, sem ser da televisão.

D. Ana Maria Caldeira - Assim pessoalmente não, conheço também de vista o Dr., não me lembro do nome dele, que é lá de Elvas, por isso, também o conheço de vista.

Dra. Sónia Cristóvão - Há quanto tempo conheceu a D. Gertrudes?

D. Ana Maria Caldeira - Entre quinze e dez, mas não sei muito bem.

Dra. Sónia Cristóvão - Portanto, foi do primeiro grupo de amas em Elvas?

D. Ana Maria Caldeira - Sim.

Dra. Sónia Cristóvão - No exercício das suas funções na Segurança Social a senhora contactava com a D. Gertrudes?

D. Ana Maria Caldeira - Sim, quer dizer, é obrigação nossa dos serviços, além de ter feito a selecção, depois há um curso de preparação para as amas feito com várias pessoas e há uma equipe que era uma assistente social e eu como educadora e depois, além de ir a casa...

Dra. Sónia Cristóvão - Ia a casa de quem?

D. Ana Maria Caldeira - A gente ia lá a casa ver como estavam as crianças, fornecer o material e ninguém sabia nem os dias nem as horas a que lá íamos.

Dra. Sónia Cristóvão - E isso foi desde o início da inscrição, portanto, isto reporta-se ao período todo em que a D. Gertrudes foi ama, é assim? Está a falar do período todo...

D. Ana Maria Caldeira - Dos miúdos que lá estão a frequentar as amas.

Dra. Sónia Cristóvão - E nas suas visitas às instalações, à casa, alguma vez notou alguma coisa de anormal que lhe chamasse à atenção algum facto que reportasse de estranho?

D. Ana Maria Caldeira - Não, nunca vi. Até, por exemplo, eu lembro-me de uma família que esteve lá, que eram de fora e esses estavam lá e muitas vezes o senhor vinha passar o fim-de-semana lá por causa da bebé não ter de se deslocar a grandes distâncias. Mas se me perguntar se o senhor era grande, baixinho, ou a mulher que era lá professora... e nessa altura eu ainda ia mais, com receio que ela além das quatro prometidas pudesse ficar com mais essa, que isso já era contra a lei. Outras coisas não vi nada...

 

- Maria de Fátima Sequeira Góis, empresária, declarou conhecer a arguida Maria Gertrudes Nunes e o arguido Hugo santos Marçal de Elvas, tendo desde 1995 - com o seu marido, a testemunha Jorge Góis -, um quiosque em Elvas, na rua da " cervejaria Lusitânia", rua esta próxima da Rua Domingos Lavadinho.

Prestou declarações quanto ao movimento da Rua, tendo declarado nunca ter visto no local os arguidos Carlos Silvino da Silva, Carlos Pereira Cruz, João Ferreira Dinis e mesmo Hugo Santos Marçal, nem um veículo Ferrari.

- Maria Isabel Duarte Azinhais, nascida a 24 de Abril de 1967, professora. Disse ao tribunal ser amiga da arguida Maria Gertrudes Nunes, é madrinha de uma das netas da arguida, conhece a sua casa em Elvas e conhece-a desde há 18 anos. Durante os anos de 89/2001 foi, pelo menos, uma vez por semana a casa da arguida e não viu que esta tivesse feito obras ou alterasse os revestimentos das paredes ou das escadas.

Disse que ao fim de semana ia a casa da arguida com frequência, pois visitava a filha da arguida ( a qual mora na c/v do prédio da arguida) e os filhos desta, os quais iam a casa da avó. Conheceu também o salão de cabeleireiro que o genro da arguida tinha na cave do prédio ao lado, pensando que se mudou em 2001. Conheceu o arguido Hugo Santos Marçal na Escola Secundária e nunca ouviu qualquer referência da arguida Maria Gertrudes Nunes ou da família a Hugo Marçal, não o viu lá em casa nem nas proximidades. Também nunca viu os demais arguidos em casa da arguida e não os viu em Elvas. Se entrassem grupos de jovens lá em casa dava por isso.

- Manuel João Foito Figueira, nascido a 13 de Julho de 1945, empregado de escritório reformado, o qual disse ao Tribunal conhecer a arguida Maria Gertrudes Nunes e o marido ( e a viverem na casa identificada no despacho de pronúncia, sita em Elvas). Andou com o marido da arguido num coro, o que sucedeu até 97/98. Esclareceu que os ensaios eram para dois coros, mas ao fim de semana (sábado e coro da Igreja) era quando a testemunha passava por casa da arguida para ir buscar o marido, para irem juntos para uns dos ensaios. Após 1997/1998, só uma vez por outra é que passou por casa da arguida. Disse que quando o marido da arguida deixou o coro, foi numa altura em que teve um problema de saúde e depois disso deixou de ir aos ensaios com tanta frequência. "Acha" que foi em 97/98, o problema de saúde foi uma "trombose num braço", esteve em casa acamado porque o foi visitar, mas não sabe se esteve no Hospital. Acrescentou que a partir de "1998 para a frente" muito raramente passou por lá (por casa da arguida).

Sabe que a arguida era ama da segurança social, pois teve uma sobrinha lá, numa altura em que lhe morreu a mãe ( o pai da sobrinha é António Marmelo, testemunha que também foi ouvida pelo Tribunal). Conhece Hugo Santos Marçal de Elvas, mas não de lhe falar, mas também nunca o viu em casa da arguida Maria Gertrudes Nunes. Quanto aos demais arguidos não os viu em Elvas.

- Joana de Fátima Tavares Chaparro Roque dos Santos, nascida a 08 de Outubro de 1951, gestora, a qual foi vizinha até 2003, em Elvas, da arguida Maria Gertrudes Nunes. Disse ao Tribunal ter carinho pela arguida, o prédio onde viveu tinha uma casa de "diferença" do prédio da arguida e ia "muitas vezes" a casa da arguida, "embora durante a semana ao fim do dia, porque trabalhava durante o dia. No entanto ao fim de semana era visita frequente, à tarde, batia-lhe à porta e entrava.

Disse saber que a arguida era ama da segurança social, "pensa que tinha miúdos durante o dia", esclarecendo que entre 1998/20001 "pensa que sim ... ", embora não se lembrasse de ver alguém deixar lá os miúdos, mas pensar que sim, isso, acontecia.

Também falou quanto ao salão de cabeleireiro que o genro da arguida tinha na "cave" do prédio da mãe, "por baixo da casa do Dr. Pacheco" (esclarecendo que a testemunha vivia no nO 14). Isto aconteceu entre 98/2001, pois o seu marido ia lá cortar o cabelo, estava aberto ao sábado todo o dia. Nunca viu carrinhas com miúdos, nunca notou ao fim de semana que isso acontecesse. No descampado em frente à sua casa estacionavam carros, mas nunca viu aglomerado de carros ou um Ferrari. E não viu os arguidos em Elvas.

- Jorge Humberto Direitinho Gois, nascido a 31 de Julho de 1968, empresário de hotelaria, o qual declarou conhecer o arguido Hugo santos Marçal. Disse ser proprietário de um quiosque situado no "lado oposto" à cervejaria Luistânia, situado perto da Casa da arguida Maria Gertrudes Nunes, pois do seu quiosque disse ver-se o início da rua da arguida. Confirmou ao tribunal ter frequentado desde 1995 o cabeleireiro do genro da arguida, o que se situa no prédio da arguida, que deixou de estar naquele sítio" há anos" (prestou depoimento em 9/11/06). Conhece o arguido Hugo Santos Marçal e não o viu em casa da arguida Maria Gertrudes Nunes. Também nunca teve referência ou conhecimento que o arguido Carlos Pereira Cruz tivesse estado em Elvas.

- Catarina Rosa Pereira Gandum, Nascida a 06 de Novembro de 1930, doméstica, disse ser amiga da arguida Maria Gertrudes Nunes, confirmou ser ama da segurança social. O marido da arguida trabalhava no centro de saúde, nunca viu os arguidos em Elvas.

- Angelina Maria do Carmo Monteiro Costa Seabra Lagoas, nascida a 15 de Outubro de 1944, professora aposentada, disse ser amiga da arguida Maria Gertrudes Nunes há 18/19 anos, conhecem-se dos cursos de cristandade. Disse ao tribunal que a arguida alugava quartos as hospedes, não era habitual deslocar-se com o marido para fora. Conhece o arguido Hugo Marçal como colega, relacionou-se com o mesmo nessas circunstâncias e os demais arguidos só da televisão. Nunca viu o arguido Hugo Marçal em casa da arguida Maria Gertrudes e às vezes ia lá. Também nunca lá viu a empregada do "Dr. Pacheco, Ana (Mexia).

- Ana Isabel Geraldes de Carvalho Cardoso Picão de Abreu, nascida a 22 de Junho de 1967, empresária, a qual declarou conhecer a arguida, por ter sido ama dos seus filhos entre 1997 e Junho/Julho de 2001.

Entrava em casa da arguida, sempre pela porta das traseiras e ia pela cozinha para a sala onde estavam as crianças. Deixava os filhos de manhã, 9.30h/10h e ia buscar à tarde 17h/17.30h. Uma vez chegou a entrar na sala" à esquerda". A arguida tinha um neto da idade do seu filho. Nunca viu um Ferrari estacionado na rua, carrinhas de "9 lugares" é possível.

- António João Sequeira Pires, nascido a 30 de Outubro de 1932, capitão do exército aposentado, cunhado da arguida Maria Gertrudes Nunes.

Disse que a casa da arguida não foi objecto de obras, descreveu-a quanto aos materiais e revestimentos. A arguida Gertrudes Nunes recebia visitas e falava muito com o Director do Hospital e a sua empregada. Não conhece qualquer um dos demais arguidos, nem o arguido Hugo Marçal.

Em relação a todos os elementos da PSP de Elvas, os depoimentos foram unânimes: nunca me viram e Elvas nem nunca ouviram qualquer rumor de que lá tivesse estado. Também nunca lá viram um Ferrari Vermelho.

- Alcino José Durão Cirilo, nascido a 16 de Fevereiro de 1958, chefe da P.S.P. de Elvas

- António Cândido Laureano Cirilo, nascido a 26 de Maio de 1959, reformado, foi agente da P.S.P. em Elvas de 1989 a 1997

- António João Ameixa Duarte, nascido a 10 de Abril de 1959, Chefe da P.S.P. de Elvas

- António José Claro Vassalo, nascido a 06 de Abril de 1966, agente principal da P.S.P. em Elvas desde 1998

- António José Mendes Gaita, nascido a 27 de Maio de 1955, agente da P.S.P. em Elvas desde 1995

- António Manuel Candeias Pinto, nascido a 28 de Maio de 1953, agente principal da P.S. P. em Elvas

- Aurélio Alvenel da Silva Martins, nascido a 19 de Novembro de 1959, agente da P.S.P. em Elvas desde 08/10/1985

- Bernardino Leitão Biscaia Relvas, nascido a 21 de Janeiro de 1961, agente principal da P.S.P. em Elvas desde 1990

- Carlos Manuel Henriques Carronha, nascido a 07 de Novembro de 1966, agente da P.S.P. em Elvas desde Setembro de 1995

- Eduardo Nuno Lagareiro, nascido a 08 de Janeiro de 1969, agente da P.S.P. em Elvas desde Agosto de 1993

- João Carlos Guerreiro Oliveira, nascido a 20 de Abril de 1974, agente principal da P.S.P. em Elvas desde 1994

- João José Canhão Morais, nascido a 01 de Março de 1962, agente da P.S.P. em Elvas desde 02/08/1991

- João Luís Lopes Santos, nascido a 10 de Janeiro de 1965, agente da P.S.P. em Elvas desde Agosto de 1997

- Joaquim Alberto Espirito Santo Carboila, nascido a 29 de Novembro de 1956, agente principal da P.S.P. em Elvas desde 1990

- Jorge Humberto Lopes Teixeira, nascido a 02 de Dezembro de 1960, chefe da P.S.P. de Elvas

- José Carlos Cabrita Cortez, nascido a 05 de Dezembro de 1972, agente principal da P.S.P. em Elvas desde Janeiro de 1995

- José David dos Anjos Bandeira, nascido a 03 de Março de 1960, agente da P.S.P. em Elvas desde 1989

- José Joaquim Ameixa Carretas, nascido a 09 de Janeiro de 1959, agente principal da P.S.P. em Elvas desde 03/02/1985

- José Joaquim Borrego Cartaxo, nascido a 19 de Outubro de 1958, agente principal da P.S.P. em Elvas desde Agosto de 1992

- José Mouquinho Salgueiro, nascido a 27 de Novembro de 1955, agente da P.S.P. em Elvas

- José Paulo Esteves, nascido a 06 de Dezembro de 1974, chefe da P.S.P. de Elvas

- Leandra Maria Almas Moreira, nascida a 22 de Novembro de 1967, agente da P.S.P. em Elvas desde Agosto de 1997

- Lúcio Valentim Fialho, nascido a 19 de Dezembro de 1960, agente da P.S.P. em Elvas desde 1989

- Luís Francisco Abreu Silveirinha, nascido a 25 de Agosto de 1968, agente da P.S.P. em Elvas desde 1993

- Manuel António Franco Carmo, nascido a 22 de Junho de 1961, chefe da P.S.P. de Elvas

- Manuel Francisco Vilhalva Murcela, nascido a 21 de Maio de 1959, agente da P.S.P. em Elvas desde Janeiro de 1991

- Manuel Joaquim Leonardo Baptista, nascido a 09 de Junho de 1968, agente da P.S.P. em Elvas desde Agosto de 1992

- Manuel Joaquim Trabuco Muralhas, nascido a 14 de Agosto de 1958, agente principal da P.S.P. em Elvas desde 1981

- Marco António Alcobia Canário, nascido a 10 de Setembro de 1972, agente principal da P.S.P. em Elvas desde 1990

- Maria Teresa Almas Rodrigues, nascida a 24 de Maio de 1962, subcomissária da P.S.P. de Elvas

- Rui Manuel Monteiro Santos, nascido a 29 de Setembro de 1967, agente da P.S.P. em Elvas desde 1996

- Severino da Silva Jerónimo, nascido a 20 de Abril de 1956, chefe da P.S.P. na Esquadra de Investigação Criminal de Elvas

- Vicente Vasco Cara Branca Espada, nascido a 16 de Abril de 1956, Policia de Segurança Pública em Elvas desde 1991

Estes são apenas os depoimentos que consegui detectar, haverá mais, todos apontam na mesma direcção. Estará toda esta gente a mentir?

Os assistentes são claros ao afirmarem que eram vários os alunos da Casa Pia que se deslocavam a Elvas em simultâneo para se encontrarem com vários adultos, nomeadamente com os arguidos.

No entanto, apenas eu cometi um crime sobre um deles sendo que o Dr. Hugo Marçal me abriu a porta: a isto resumiu o Tribunal toda a fantasia da noticiada, mostrada, e propagandeada acerca da "Casa das Orgias".

Ainda por cima, alterou o dia da ocorrência de um Sábado (como está na Acusação e Pronúncia) para um dia indeterminado do último trimestre de 1999 depois de anos de processo a debater a mesma coisa e não me comunicou essa alteração?!

Eu nunca estive em qualquer casa de Elvas. Passei por Elvas poucas vezes, a última das quais em Novembro de 1997 com a minha mulher vindos de Espanha. Passei também ao largo de Elvas em 2010 por ter ido a Madrid com a minha mulher e a minha filha na altura do Carnaval.

Porquê ir para Elvas? Mais 15 Kms e estava em Badajoz. Não seria mais acertado ir para um local onde a minha presença fosse discreta e considerada "normal"?

Não querendo dar nas vistas, não é estranho que os arguidos se deslocassem em "grandes bombas" (incluindo um Ferrari nunca visto) e ainda por cima estacionar num descampado, situado numa zona de muito movimento em Elvas?

Numa rua sem movimento não era correr um risco maior de, por acaso, ser visto por alguém e dar ainda mais nas vistas?

O que é que eu dizia à minha mulher (que entretanto me telefonaria) para justificar uma ausência de pelo menos 5 horas?

Ouvidas pessoas de Elvas, vizinhos, pessoal da cervejaria que lá se encontra em frente do descampado e mais de 20 polícias da esquadra de Elvas, ninguém viu, ninguém ouviu, ninguém conheceu qualquer rumor?

Todos estes dados estiveram à disposição da equipa de investigação. Só que esta nada procurou. 

Reveja os videos feitos pelo tribunal dos reconhecimentos à casa de Elvas.