O Carlos Mota começou a trabalhar na minha produtora CCA em 1990. Era assistente de produção e realização, como todos os funcionários da CCA podem comprovar. Tinha assim várias tarefas, sendo uma delas a de procurar público e atender pedidos para assistirem às gravações do programa. Além disso dava apoio ao escritório desempenhando várias tarefas. Quando a CCA deixou praticamente de ter programas pedi-lhe para organizar os meus arquivos juntamente com a sua companheira. Desde livros a cassetes e recortes de jornais que estavam encaixotados e que vinham dos anos 60, quis finalmente ter as coisas organizadas. Era uma tarefa que ele ia desempenhando quando não havia trabalho nos estúdios nem no escritório. E deu-me apoio em programas que eu apresentei, nomeadamente tratava de ir buscar a minha roupa e ter as minhas coisas prontas quando eu chegava ao estúdio. Nunca foi meu secretário particular.

Nunca soube o passado dele, nem de nenhum funcionário (cheguei a ter 70). A divulgação pela SIC de que ele tinha sido acusado há anos de abuso ou tentativa de abuso de duas raparigas menores, nunca tendo sido julgado por isso, foi um enorme choque para mim.

Essa notícia caiu como sopa no mel para os acusadores. Até aí nunca o nome Carlos Mota tinha surgido no processo, nem nunca foi reconhecido por nenhum assistente no célebre álbum de fotografias que até incluía o Cardeal Patriarca de Lisboa.

Depois da notícia, começou a ser "visto" em Elvas e noutros locais e até teria abusado também. Este procedimento, é aliás comum a todos arguidos, primeiro sairam na comunicação social e só depois são reconhecidos pelos testemunhos.

FG é quem o "reconhece"  no dia da notícia da SIC à noite, telefonando para o Inspector Dias André às 21:30. Até aí, tinha sido ouvido 6 vezes sem nunca o referir:

1

16-12-2002

10:30

Gomes Freire

Rosa Mota

José Alcino

2

06-01-2003

10:15

Gomes Freire

Rosa Mota

José Alcino

3

13-01-2003

18:30

Provedoria CPL

Rita Santos

José Alcino

4

27-01-2003

12:00

Gomes Freire

Rosa Mota

José Alcino

5

04-02-2003

16:26

Gomes Freire

Paula Soares

Cristina Faleiro

6

06-02-2003*

17:37*

Gomes Freire

Dias André

Rita Santos

*No interrogatório de dia 6 à tarde realizou reconhecimentos fotográficos de abusadores.

Convém lembrar que o próprio Juiz Rui Teixeira recusou escutas ao seu telefone com o seguinte despacho: "analisados os autos não vislumbramos onde é que existem os fortes indícios de que Carlos Mota haja transportado os menores abusados até aos seus abusadores (...)".

Nunca foi ouvido pela investigação apesar de se ter mantido em Portugal e na sua residência até pelo menos Outubro de 2003 como se constata pela listagem de chamadas do seu telefone que consta do processo. Porquê?