Carlos Silvino foi ouvido no início do julgamento durante vários dias. Posteriormente foi tendo outras intervenções. A suas declarações são muitas vezes incompreensíveis, contraditórias e negando outros depoimentos dos assistentes. Ficam aqui alguns excertos, uma pequena amostra mas bastante significativa.

16.12.04

Juíz Presidente - Para além dessa vez que o Senhor refere o torneio, foi mais alguma vez a Elvas?

Carlos Silvino- Fui mais duas vezes com o meu carro, deixei-os lá e vim-me embora.


12.09.05

Juíz Presidente - Então, a primeira vez diz que é, a primeira vez, tem a certeza que foi, que diz ter ido a Elvas, que foi em, que foi a vez em que deixou os atletas para o ténis de campo?

Carlos Silvino - Foi aqui. Foi em 99. Fiz lapso e não só. Devia de estar nervoso também, por eu dizer, portanto, 98.

Juíz Presidente  - E então nesse ano de 99, a seguir a essa vez da ida em que deixou atletas para o ténis de campo, nesse ano, quantas vezes é que o senhor foi a Elvas?

Carlos Silvino - Nesse ano, fui umas seis ou sete vezes, Srª Drª.

Juíz Presidente  - Seis ou sete. E no ano a seguir foi lá alguma vez ou não?

Carlos Silvino - No ano a seguir fui lá duas vezes, só. Mas com o meu carro, Srª Drª. Mas eles ficaram lá e depois eu vim-me embora.

Juíz Presidente  - Mas nessa primeira vez, nenhum dos rapazes lhe disse: olha eu preciso de ir a Elvas, ou eu quero ir a Elvas?

Carlos Silvino - Que eu saiba, não Srª Drª. Não ouvi.

Juíz Presidente  - Portanto, o senhor levou-os por causa do ténis de... campo?

Carlos Silvino - Por causa do ténis e por causa de ir a Espanha.

[Este é o tal dia 20 de Março de 1999, dia em que me encontrava no Algarve a assistir à final do Mundialito de Futebol Feminino. Além disso, ele diz que os rapazes foram a Elvas por causa do Ténis de Campo!]

15.09.05

Desmente o depoimento de FG o seu "braço direito"

Juíz Presidente  - Sr. Carlos Silvino, vão ser-lhe mostradas duas agendas, dois documentos e o que eu peço é para o senhor as examinar e caso, todos os documentos que aí estão, e saber se isso é seu, se foi escrito por si?

Carlos Silvino - Srª Drª, eu não tenho agendas destas. Tenho uma agenda grande mas com números de telefone de imigrantes das aldeias onde eu ia tocar. Portanto, estas agendas desconheço.

Juíz Presidente  - Desconhece. Não são suas.

Carlos Silvino - Nunca entreguei isto ao FG, nem fotografias.

Juíz Presidente  - E já agora. Há um outro grupo de documentos que foram entregues, que foram juntos ao processo no dia de ontem, estão...

Carlos Silvino - E esta não é a minha letra, mesmo assim, Srª Drª.

Juíz Presidente  - Não é a sua letra?

Carlos Silvino - Não, não, Srª Drª.

Juíz Presidente  - E alguma vez entregou essas agendas

Carlos Silvino - Nunca, nunca.

Juíz Presidente  - Ao Sr. FG?

Carlos Silvino - Nunca. Nem isto, nem fotografias.

(...)

Juíz Presidente  - E para além de agendas, entregou outras, alguns documentos a este senhor

Carlos Silvino - Nunca, nunca,

Juíz Presidente  - FG? Algumas folhas?

Carlos Silvino - Nem ele

Juíz Presidente  - Alguns escritos?

Carlos Silvino - Nem ele, nem a ninguém.

[Ora FG disse várias vezes que Carlos Silvino lhe tinha entregue documentos e fotografias para ele destruir. Chegou mesmo a afirmar que desse material entregou algumas fotografias a um tal Orlando da Lourinhã. Confessa mais tarde que inventou o nome porque se chamava Armando e ele, FG, queria lá chegar antes da Polícia! Também não existe nenhum Armando da Lourinhã] 

16.12.04

Juíz Presidente - E depois? Como é que eles vieram para Lisboa?

Carlos Silvino- Vieram de camioneta ou vieram com os próprios, eles é que sabem como é que vieram Sr.ª Doutora, não posso explicar. A primeira vez que fui lá eu recebi um envelope do Sr. Hugo Marçal, depois nunca mais recebi. Eles é que recebiam o dinheiro pelas pessoas que lá estavam, isso não era eu que ... sobreposição de vozes ...

[Também aqui nega todas as versões relatadas pelos assistentes]

16.12.04

Juíz Presidente - Houve mais alguma situação em que o Senhor tivesse ido a Elvas?

Carlos Silvino- Não, foi só essas três vezes

(..)

Juíz Presidente - E depois desta situação, na casa das Forças Armadas voltou a encontrar este Senhor? [Carlos Cruz]

Carlos Silvino - Voltei sim senhor, mas não falei com ele, deixei-os [Deixei-os? Mas sempre disse e repetiu que só tinha levado o JPL e este diz que ia sozinho com o Carlos Silvino] cá em baixo, no Teatro Vasco Santana, na feira popular, que eles iam para filmagens, onde estava o Sr. Carlos Mota com mais miúdos, que não eram da Casa Pia, miúdos entre os 13 (treze), 14 (catorze) e os 15 (quinze) anos. Quem tinha o contacto do Sr. Carlos Cruz, era o Francisco Guerra, ele é que me dizia a mim se podia dar boleia, portanto, aos rapazes que eles queriam ir, portanto para as filmagens que era o código das filmagens, mas era com sexo à mistura.

Juíz Presidente - Portanto, o Senhor não tinha qualquer contacto deste Senhor?

Carlos Silvino- Nunca tive contacto com este Senhor.

(...)

Juíz Presidente - Há mais alguma situação em que o Senhor tenha visto o Sr. Carlos Pereira Cruz?

Carlos Silvino- Sim, a casa de Elvas.

Juíz Presidente - A casa de Elvas?

Carlos Silvino- Sim senhor.

Juíz Presidente - Então, casa de Elvas ... na casa de Elvas como é que ...

Carlos Silvino- Lá dentro não, cá fora. Já tinha contado de manhã à Sr.ª Doutora que fui com ... imperceptível ... ténis de campo ... Casa Pia Atlético Clube, depois o jogo era só às 11:30 (onze e meia) e os alunos quiseram ir, portanto dar uma volta. Eu disse que os deixava em Elvas, não podiam passar a fronteira, só que eu fui comprar o azeite ao Caia e deixei-os em Elvas ao pé do contentor. Quando ... depois das compras que eu fiz em Elvas ... no Caia, o azeite e a boneca para a minha mãe adoptiva, que fazia anos no mês a seguir, eu quando regressei, num campo descampado vi vários carros, grandes máquinas, como  se diz ou grandes bombas e estava lá o carro do Sr. Ferreira Diniz, estava ... vi a cara do Sr. Marçal, vi o Sr. Carlos Mota, Jorge Ritto, a D. Gertrudes, Carlos Cruz, Paulo Pedroso e o médico Camisão, Camiseirão ou Camisão (...)

Juíz Presidente - Pronto. E o Senhor levou-os numa carrinha Trafic, é isso?

Carlos Silvino- A Trafic porque tinha de levar os atletas.

Juíz Presidente - Mas o Senhor ia com autorização da Casa Pia?

Carlos Silvino- Sim, sim, sim. Ia lá o Professor e tudo.

[Portanto, os rapazes foram a Elvas por causa do Ténis de Campo, e como não puderam ir a Espanha, ficaram em Elvas)

Mas em 13.01.05 diz:

Juíz Presidente - Este nome, Prof. Barreto, diz-lhe alguma coisa?

Carlos Silvino- É do ... é do Ténis, mas nunca foi. Ele ia lá ... ele ia lá ter, nunca foi na carrinha.

Juíz Presidente - Não ... não foi na carrinha?

Carlos Silvino- Não senhor.

Juíz Presidente - Continua sem se recordar do nome do Professor que ...

Carlos Silvino- É o Prof. Barreto, sim senhor.

Juíz Presidente - Não, mas na carrinha consigo, foi algum Professor?

Carlos Silvino- Na carrinha não vinha nenhum Professor. Não. Só vinha o ...

 

10.01.05

Carlos Silvino- Sim, que a primeira vez, que deixei os miúdos no Campo Grande, que era para irem, foram para Elvas, foi a primeira vez que eles disseram que iam para Elvas nos carros do Sr. Jorge Ritto, do Sr. Carlos Mota, no Ferrari do Ferreira Diniz e de Zé Camisão e de mais dois Senhores que estavam lá, já tinham miúdos dentro dos carros, por isso mesmo, portanto, eu deixei-os.

Juíz Presidente - Deixou quem e a pedido de quem Sr. Carlos Silvino da Silva?

Carlos Silvino- O JPL, o LM

(...)

Juiz Adjunta - e só refere filmagens relativamente ao campo grande não é assim?

Carlos Silvino- Ao Campo Grande, às Forças Armadas, não, é nas Forças Armadas que eu refiro, é na casa dos Rs.

Juiz Adjunta - Na casa dos Rs, também?

Carlos Silvino- Sim, também.

Juiz Adjunta - E relativamente a Elvas?

Carlos Silvino- E Elvas a mesma coisa.

Juiz Adjunta - E ... também há filmagens em Elvas?

Carlos Silvino- Sim, sim.

Juiz Adjunta - Então há filmagens, em praticamente todos os sítios?

Carlos Silvino- Quase todas as casas.

(...)

Carlos Silvino- Nunca, nunca entrei em casa de ninguém, nunca recebi dinheiro de ninguém, ninguém mesmo, quer dizer, do dinheiro dos envelopes que me deram, nunca fiquei com nenhum tostão, assim é que é.

Juiz Adjunta - Nem nunca soube quanto é que os miúdos receberam?

Carlos Silvino- Nunca, nunca.

[Mais uma questão que não corresponde já que os rapazes dizem que ele é que distribuía o dinheiro. Há um que até diz que recebia menos 2 contos que os outros e não sabia porquê]

(...)

Procurador - O Arguido na sessão de 16 (dezasseis) de Dezembro, referiu também que os contactos com ... do Sr. Carlos Mota para arranjar miúdos eram feitos directamente para a Casa Pia, se esses contactos eram feitos para o Arguido ou para outras pessoas dentro da Instituição, que não sabe quais, para além do porteiro, quem era o Porteiro?

Carlos Silvino- Já faleceu.

Juíz Presidente - Como é que se chamava?

Carlos Silvino- Graciano Nunes de Almeida.

Juíz Presidente - E para além do porteiro eram feitos contactos com mais alguém?

Carlos Silvino- Com mais alguém lá dentro, que eu não sabia quem era, portanto pessoas portanto que eram funcionários da Casa mas que eu não sei quem era ... que ele entrava lá dentro como um cão e saía.

(...)

Procurador - Sr.ª Doutora, eu peço desculpa é que eu não compreendo, então se o Sr. Carlos Mota telefonava para o Porteiro, se o Porteiro telefonava para o Sr. Carlos Silvino, como é que depois os rapazes vinham a saber que o Sr. Carlos Mota queria rapazes?

Juíz Presidente -  Não quer responder ... quer responder? 

Carlos Silvino- Quero responder, porque ele aparecia lá depois no outro dia, aparecia lá no outro dia porque ele deixava lá, portanto um papel escrito que às tantas horas ia lá buscar os miúdos, só que não aparecia lá ninguém ...

Juíz Presidente - Deixava onde, esse papel ...

Carlos Silvino- No Porteiro, no Porteiro ...

 

12.01.05

Juíz Presidente - A si, alguma vez o Sr. Carlos Mota lhe pediu miúdos, rapazes?

Carlos Silvino- A mim directamente não, mas pediu ao Porteiro e Porteiro deixou-me ... dava-me o recado só que eu não passava cartão a isso.

Advogado - Portanto o Porteiro ... ele deixava ao Porteiro, ao tal Graciano?

Carlos Silvino- Graciano Nunes de Almeida.

Advogado - E isso durante os anos 90 (noventa), 95 (noventa e cinco), 96 (noventa e seis), já era o Senhor motorista?

Juíz Presidente - Quando é que foi que ...

Carlos Silvino- Não, eu não ...

Juíz Presidente - Que isso aconteceu, do porteiro pedir-lhe ... transmitir-lhe pedidos do Sr. Carlos Mota?

Carlos Silvino- Em 96 (noventa e seis), 97 (noventa e sete), 98 (noventa e oito) mais ou menos, mas não era motorista, eu não era motorista.

Advogado - Em 96 (noventa e seis), 97 (noventa e sete)?

Juíz Presidente - E 98 (noventa e oito)

 

O porteiro Graciano Nunes de Almeida reformou-se em 1987 e nunca mais voltou à Casa Pia.

 

Carlos Silvino- Eles iam para reforma, mas ficavam lá mais dois anos ou três ou quatro ou cinco anos.

 

Foi completamente negado oficialmente. Mesmo assim, reformado em 87 estaríamos a falar de 1992, no máximo

 

24.01.05

(...) Eu tinha anotado que no dia 10 (dez), teria dito mesmo, que chegaram a ser feitos contactos directamente consigo, mas é capaz de ter sido lapso meu, que o Sr. Carlos Mota, os contactos que fez consigo, foram telefonicamente de alguma forma directa, ou através do Porteiro?

Carlos Silvino - Nunca, nunca, nunca directamente, foi sempre através do Porteiro, ligava de vez em quando para a garagem, e outras vezes portanto ...

 

24.01.05

Juíz Presidente - Sr. Doutor, Sr. Doutor. Quando foi perante a Sr.ª Juiz de Instrução o Senhor disse, a primeira vez que foi a Elvas, viu lá o Sr. Ritto, o Sr. Carlos Mota, o Sr. Hugo Marçal, o Sr. Carlos Cruz, o médico Ferreira Dinis e outro médico Camisão e também o Sr. Pedroso que agora sabe ser o Arguido Paulo Pedroso. Dentro de um dos carros, que ali se encontravam estacionados, estava o Sr. Ritto que distribui t-shirts para os miúdos, para ficarem todos iguais, estavam lá outros miúdos, sete ou oito que não eram da Casa Pia. Perante aqui no Tribunal o Senhor disse que não viu o Sr. Jorge Ritto a distribuir t-shirts?

Carlos Silvino- É verdade, sim senhora, que não o vi, que me contou foram eles no caminho Sr.ª Doutora.

Juíz Presidente - E lembra-se quando ... quando prestou declarações perante a Sr.ª Juiz de Instrução, se o Senhor na altura disse mesmo que dentro de um carro, que ali se encontra estacionado, estava o Sr. Jorge Ritto, a distribuir t-shirts? Lembra-se de ter dito isso?

Carlos Silvino- Não, não me lembro, Sr.ª Doutora.

  

08-07.05

Juiz Barata - Sr. Carlos Silvino, então, na versão que apresenta ao Tribunal, nunca falou com nenhum dos arguidos por telefone. Eram sempre os rapazes que lhe pediam boleia. Certo?

Carlos Silvino - Sim senhora. Nem nunca recebi chamadas nenhumas de

Juiz Barata - nem nunca recebeu chamadas nenhumas.

Carlos Silvino - Nunca recebi chamadas nenhumas.