"Refere que a Polícia Judiciária chegou até si através das declarações de um seu colega de quarto, de nome JPL."

LM a 10 de Março de 2003


LM
é o jovem em relação ao qual estou pronunciado por 4 crimes. Dois em Elvas e dois na Av. das Forças Armadas. A documentação que apresentei, e todos os testemunhos em Tribunal, provam, sem margem para qualquer dúvida, que eu nunca estive em Elvas, nem dentro nem fora da casa de D. Gertrudes que só vim a conhecer no primeiro dia da acareação com Carlos Silvino, no TIC (Tribunal de Instrução Criminal). Quanto ao caso das Forças Armadas, uma história de pura ficção como também todos os testemunhos demonstraram em Tribunal.

Data de Nascimento: 28 de Setembro de 1986 (23 anos)

Data de Admissão na CPL: 27 de Outubro de 1999 (13 anos)

Dr. Pedro Strecht - LM foi acompanhado pelo Dr. Pedro Strecht desde o principio de 2003, com uma periodicidade semanal.


Deve clicar em cada tema para saber mais.

1. Contradições e Mentiras

A “estória” da Av das Forças Armadas tem quatro personagens: Carlos Silvino, FG, JPL e LM. Não há nenhum depoimento coincidente, nem na fase de inquérito nem na de instrução.

No seu primeiro depoimento, em 16 de Janeiro de 2003  diz que a única vez que "esteve comigo" foi em Lisboa, sem sexo anal, embora me visse várias vezes em Elvas; em 3 de Janeiro ou 1 de Março (ficará sempre a dúvida sobre a data)[9]  já diz que uma das vezes em Elvas teve contactos sexuais comigo e apenas uma vez numa casa que seria a minha;

Em 10 de Março afirma que "deseja rectificar e diz que esteve por duas vezes numa casa que pensa que seria a dele" (minha) (fls 2384) e que da segunda vez também foi de Fiat 127.[10] Na mesma data reafirma que teve um contacto sexual comigo em Elvas;

Em 9 de Abril reconfirma um contacto sexual em Elvas e dois em Lisboa; e no mesmo depoimento (!) diz que se recorda que em Elvas quando já tinha 14 anos, a última vez que lá esteve, também teve relações comigo (portanto passa para duas) contradizendo a versão, no mesmo documento, de que em Elvas só tinha acontecido uma vez;

Mas em Julho, no INML declara que em Elvas "uma vez fui escolhido pelo Carlos Cruz" (pg 5 do "Relatório sobre a personalidade");

Em 24 de Abril é ouvido para dizer que, afinal, tudo o que tinha dito até aí se tinha passado um ano antes do que tinha declarado, isto é, o que disse que se passou em 2000 passa para 1999 e de 2001 passa tudo para 2000;[11]

À  Juíza de Instrução declara que esteve duas vezes na Av. das Forças Armadas mas não especifica se abusei dele em Elvas. Cruzando todos os depoimentos de LM com os de FG e de Carlos Silvino, dificilmente se encontrará uma coincidência. Limito-me a sublinhar mais 3 pormenores:

1-  Cruzando todas as datas com a "estória" de que quem abusou dele, pela primeira vez, dois a três meses depois de entrar para a CPL, foi Carlos Silvino, cai por terra a teoria de que a primeira vez na Av das Forças Armadas teria sido em Dezembro de 1999 ou Janeiro de 2000;

2- LM situa JPL na Av. das Forças Armadas, juntamente com ele tendo eu mesmo abusado dos dois (A acusação e Pronúncia colocam JPL no local entre 1998 e Setembro de 1999. Não podia ser e por isso o Tribunal alterou a data de JPL. Ora JPL disse à Drª Juíza Ana Teixeira e Silva durante a Instrução:
   "O declarante apenas esteve nas casas de Elvas, na de Cascais do Jorge Ritto e no estúdio do Carlos Cruz da Feira Popular. Foi ao estúdio da Feira Popular do Carlos Cruz mas [12]nada aconteceu aí, tendo apenas visto o mesmo" (fls 19037). Não há Forças Armadas.

3- Mas a história mais fantástica é esta. No primeiro (?) interrogatório a que foi sujeito (16.01.03),  dirigido pelo Inspector Dias André, LM declara (fls 569): "Lembra-se que o João Paulo[13] disse ao depoente se queria ir "a casa do Carlos Cruz " (...) O depoente aceitou, pois ele era uma pessoa conhecida da televisão e queria conhecê-lo pessoalmente".

No terceiro depoimento (10.03.03), agora interrogado pela Drª Rosa Mota, a testemunha faz esta afirmação (fls 3492): "... o Bibi levou-o juntamente com o JPL a casa de outro indivíduo para com este manter relações sexuais. Chegado ao local o depoente ficou admirado pois tratava-se do conhecido apresentador de televisão Carlos Cruz".[14]

Mas ainda tem uma terceira versão. A que deu no INML, no mesmo dia 10.03.03 (fls 4545): "A primeira vez que Bibi me levou tinha eu para aí 14 anos , disse-me que ia conhecer uma pessoa importante, fomos a casa do Carlos Cruz (...) eu ia com um colega que não conhecia".[15]

Isto é:  já não foi o JPL que o convidou, não ficou surpreendido, foi com um colega que não conhecia, foi esta a primeira vez e tinha 14 anos.[16]

LM
reafirma que esteve duas vezes na casa da Av das Forças Armadas mas que tem dúvidas quanto ao andar.[17] Não quantifica as vezes de Elvas. E afirma o seguinte:
"Quando foi à casa da Av. das Forças Armadas, o Bibi levou-o até à porta do prédio e tocou à campainha de um dos andares;  da primeira vez, levou-o mesmo ao andar e da segunda vez mandou o declarante subir sozinho".

Chegados a esta afirmação convém citar Carlos Silvino, nas declarações que prestou à Juíza de Instrução, em 19 de Março:
"Deixou o FG, o JPL, o LM e outros miúdos na Av. das Forças Armadas para irem ter com o Carlos Cruz". "Foi ainda mais 2 vezes à Av. das Forças Armadas mas no seu carro para dar boleia aos miúdos".

Em 21 de Abril declarou: "Foi levar rapazes a uma casa na Av. das Forças Armadas que os rapazes diziam ser um estúdio do Carlos Cruz, deixando-os no topo da avenida."

Em 29 de Abril, 8 dias depois, na acareação que teve comigo: "O respondente foi quatro vezes à Av. das Forças Armadas mas só em duas delas é que viu o arguido Carlos Cruz: subiu com os miúdos ao segundo ou terceiro andar, o arguido Carlos Cruz abriu a porta e entregou-lhe das duas vezes um envelope com dinheiro que distribuiu pelos miúdos. Diziam os miúdos que era um estúdio de filmagens"."Das duas vezes que subiu à casa da Av. das Forças Armadas, ouviu barulho indicativo de que estava lá mais gente.Entrou sempre pela porta das traseiras (que na altura pensou ser a da frente) e retratada a fls 19165; era também por esta porta que os miúdos entravam quando não subia com eles.

Até aqui este texto é retirado do meu livro “Preso 347” publicado em Outubro de 2004. É muito importante agora confrontar tudo isto com mais invenções que estão bem descritas neste site na secção “RESPOSTAS” (resposta nº 10 “Como explica a casa das Forças Armadas?”
)

Continuando a citar o livro:

Perante tanta mentira e contradição, o MºPº, inventa  uma entrada secreta (é verdade! Está escrito na pág. 39 do documento do MºPº)[18] por onde eu entraria e da qual nem Carlos Silvino nem as "vítimas" teriam conhecimento. Essa porta seria, por exemplo, fruto das obras que o prédio sofreu em 2001! (Segundo o MºPº, claro).

É fantástico: ninguém me viu no prédio porque eu tinha uma entrada secreta! Com túnel para o andar da enfermeira? Elevador privado? A investigação nunca encontrou tal entrada por ser... secreta. Além disso, essa entrada  poderia ter resultado das obras que um inquilino fez no seu apartamento, vizinho da tal D. Odete, e que o MP transforma em obras no prédio.

As obras (vá lá que nisso diz a verdade) realizaram-se em 2001 e os crimes que o MºPº quer que eu tenha cometido situam-se entre Dezembro de 1999 e Fevereiro de 2000. Portanto, esta é a teoria dos senhores Procuradores: em fins de 1999 e princípios de 2000, eu entrava para um apartamento indeterminado, num bloco indeterminado, no nº 111 da Av. das Forças Armadas, para ir praticar abusos sexuais, através de uma porta secreta, construída um ano depois de eu ter entrado por ela e dos acontecimentos.

O MP não quer largar a sua teoria do prédio da Av. das Forças Armadas. E vai ao limite de forçar a realidade dos autos.

Escrevem os senhores procuradores no documento que tenho vindo a analisar:

Com efeito, no seu depoimento de  fls 308 esta testemunha descreve o prédio da casa de Carlos Cruz, situando-a na Zona de Entrecampos "numa avenida que começa na rotunda e sobe para Sete rios
e a avenida 5 de Outubro, ou seja a Av. das Forças Armadas."[19]

Vamos ler então o que diz a testemunha FG a fls 308: "Dirigiram-se para Entrecampos, Lisboa. Diz que pararam o carro junto ao cruzamento da avenida que começa na rotunda e sobe para Sete Rios e a avenida 5 de Outubro."[20]

Os ilustres Magistrados apagaram a palavra cruzamento para forçarem a leitura apenas da avenida que sobe na direcção de Sete Rios. Em ilusionismo chama-se a isso o "truque da carta forçada. É que, uma casa naquele cruzamento, jamais poderia ser o nº 111 da Av das Forças Armadas que fica já perto do Hospital de Santa Maria e nunca na zona da Av. 5 de Outubro.

[9] - A propósito das datas subiste uma grande dúvida porque o 2º devia ser anterior ao 1º, a não ser que ainda existisse outro 

[10]
- Em 18 de Novembro já diz que o Fiat 127 foi só da primeira vez e acrescenta que, da segunda vez, "não se recorda quem foi consigo nem como se deslocou ao local" (fls. 12371).

[11]
- É que, se se mantivessem as datas de que LM falou sempre (de Janeiro a Abril), isso significaria que ele só serviria como testemunha de actos homossexuais com adolescentes. Não devia dar jeito e a solução é simples: antecipa-se tudo um ano e ele passa de 14 para 13 anos de idade.

[12]
- Sobre a casa da embaixador Ritto e sobre o Teatro Vasco Santana já esclareci sobre a impossibilidade de qualquer veracidade. E perante tudo isto, apetecesse perguntar: não mentem? Quando?

[13]
- O João Paulo é, evidentemente, o JPL que afinal parece que já não terá ido à Av. das Forças Armadas.

[14]
- No acórdão que libertou o Dr. Paulo Pedroso da prisão preventiva, os senhores Juízes Desembargadores estranham porque é que as testemunhas (todas comuns a mim e ao Dr. Pedroso) não foram confrontadas com as suas contradições. Como seria óbvio! Além de descredibilizarem todas essas testemunhas.Com razões também óbvias.

[15]
- Destaques meus.

[16]
- Lendo de novo o Acórdão de 8 de Outubro, que analisou a situação do Dr. Paulo Pedroso, lê-se: "Não lhe foi assinalada a contradição com o anterior depoimento". Acrescento: nem essa nem nenhuma das que me dizem respeito e de que aqui registei algumas. O Acórdão sublinha também o facto do rapaz ter mudado tudo, de repente do ano 2001 para o ano 2000 e de 2000 para 1999. (V. Nota 249, pág. 371)

[17]
- Como convém à nova versão do MºPº. E para a Dr.ª Juíza Ana Teixeira e Silva já nem a identificação do prédio é importante, quanto mais o apartamento. Com o argumento de que os alunos da Casa Pia conhecem mal Lisboa e se afastam pouco do Colégio!

[18]
- Todos os números de páginas referidos neste contexto são do mesmo documento.

[19]
- Sublinhado meu.

[20]
- Sublinhados e destaques meus. Entretanto mandei medir a distância entre esse cruzamento e o tal prédio. São 500 metros. Então eles iam andar 500 metros, a subir, para chegar ao prédio? Coitados... Chegavam lá estoirados.

2. Relações com outros assistentes

Relembro que o Dr. Juiz Rui Teixeira afirmou que os assistentes não se conheciam.

LM é colega de Lar e de quarto de JPL entre 1998 e 2000 e colega de turma de JPL no ano lectivo de 1998/1999.

LM é colega de Lar e de quarto de FG em 1999/2000.

Foi companheiro de Lar de IM em 2001.

3. Telefonemas

Não encontro no processo quaisquer referências a um número de telefone do LM. Encontrei o número de telefone de duas das casas por onde passou e dois números de telefone da mãe. Nenhuma chamada (efectuada ou recebida de mim).

4. Colegas que associou ao "esquema"

LM reconheceu nas fotos os colegas:


-Não tem dúvidas em falar de FG e JPL como colegas que tenham ido a Elvas.

-FH do Lar Albino Vieira Rocha que terá ido ao Norte com ele e BIBI – FH foi ouvido pelo menos 3 vezes. Nega que tenha estado com o Carlos Silvino onde quer que seja. Ouvido após a minha prisão.

-MR que terá ido com ele à casa de Marçal mas com dúvidas - MR tem 8 anos em 2003 o que significa que em 99-00 teria 4 ou 5 anos. Nega qualquer ida a Elvas. Ouvido após a minha prisão.

-LD que acompanhava muitas vezes o BIBI por vezes sozinho - confirma. Foi ouvido 9 vezes pela PJ confirmando ter sido abusado por Carlos Silvino mas só por ele. No seu 7º depoimento acusa-me - dia 22/07/2003 (172 dias depois de eu ser preso)

-Pensa que RN também foi a Elvas – RN foi ouvido pela primeira vez após a minha prisão e ouvido 7 vezes durante o inquérito. Nega ter ido a Elvas.
5. Falou em Carlos Cruz pela primeira vez

Logo no seu primeiro depoimento à PJ no dia 16 de Janeiro de 2003 (15 dias antes de eu ser preso e 49 dias após as entrevistas que dei às Televisões).

6. Situação anterior ao internamento na CPL

-O pai com quem mantinha uma ligação forte, morreu em 1994 quando LM tinha 7 anos.

-A mãe nega-lhe o direito de falar do pai, educou-o de uma forma autoritária, violenta e não respeitadora dos seus direitos básicos.

-Foi enviado para a CPL pelo Tribunal de Menores e Família

7. O Processo Individual de LM, da Casa Pia de Lisboa

Foi apensado ao processo no dia 6 de Fevereiro de 2003 (5 dias depois de eu ser preso). 

Neste Processo Individual constam dados biográficos de LM e uma série de referências à sua passagem na CPL dos seus educadores, perceptores e psicólogos:

A vida académica de LM é pautada pelo desastre - mau comportamento chegando a ser mal-educado para os professores, péssimo aproveitamento.

A 8 de Fevereiro de 2000 os educadores do Lar escrevem que a mãe culpa o LM de ter encarnado o espírito do pai para lhe fazer a vida negra.

A 23 de Fevereiro, o educador alerta "suspeita-se que esteja a iniciar consumos de substâncias tóxicas."

A 10 de Dezembro de 2000 LM foi apanhado pelo educador a fumar charros.

A equipa técnica do Internato reporta a 10 de Setembro de 2001 o consumo de substâncias tóxicas substanciadas através de análises de despiste realizadas no Lar. " (...) Também a mãe se mostrou preocupada, adiantando que o filho está muito desobediente e sempre que tem oportunidade vai juntar-se a uns amigos que, suspeita estarem ligados a consumos e tráfico de drogas."
 24 de Julho de 2001, "no passado domingo, o LM entrou em conflito com a irmã e na sequência disso agrediu a mãe (segundo a mãe não propositado). O LM não acata ordens dos adultos. Em casa ameaça a mãe."

A 3 de Janeiro de 2002, levantou 40 Euros do Multibanco da mãe. "Claro que deu confusão." No dia seguinte LM desapareceu.

A 10 de Abril de 2002 o seu director de turma afirma que LM " dá aos outros isqueiros e cigarros". Fala no envolvimento de LM num incêndio.  

A 2 de Maio de 2002, pode ler-se que " o LM hoje faltou ao respeito aos educadores por causa das tarefas, fugiu e foi para casa."

A 21 de Novembro de 2002 numa Comunicação da Escola Agrícola lê-se: "Devido a comportamentos inadaptados à comunidade bem como ao retrocesso no seu desenvolvimento pessoal" o LM efectuará trabalhos comunitários.

A 17 de Janeiro de 2003 (1 dia depois de ir à PJ), LM agrediu uma colega (por ela não o ter deixado jogar no telemóvel dela, ele apalpou-a e ela deu-lhe um estalo. LM atirou-lhe uma pedra que por sorte não lhe acertou). "Só parando a agressão quando me coloquei entre ambos." Está tapado a algumas disciplinas. Foi abordado na escola por um Jornalista.

A 25 de Janeiro de 2003, a mãe ligou para o Lar. Foi uma Jornalista lá a casa mas LM estava em casa da irmã.

8. LM ouvido pelas autoridades

Data

Diligência

Local

1

16-Jan-03

Interrogatório

Gomes Freire

2

16-Jan-03

Reconhecimento

Restelo

3

3-Fev-03

Reconhecimento

Av. Forças Armadas e Elvas

4

17-Fev-03

Declarações

TIC

5

1-Mar-03

Interrogatório

Gomes Feire

6

10-Mar-03

Interrogatório

Gomes Feire

7

10-Mar-03

Perícia Física

IML

8

9-Abr-03

Interrogatório

Gomes Feire

9

24-Abr-03

Interrogatório

Gomes Feire

10

7-Jul-03

Perícia Psicológica

IML

11

18-Nov-03

Interrogatório

Gomes Feire

12

19-Dez-03

Interrogatório

Gomes Feire

13

22-Nov-03

Reconhecimento

Zibreira e Av. Forças Armada

9. Colegas, em Inquérito, sobre LM

VHSMcolega 
Data da diligência: 2003/01/20 (11 dias antes de eu ser preso)
No Lar onde reside, os alunos que já vieram à Policia Judiciária, comentam que alguém disse coisas que não aconteceram, pelo menos com eles. Esses alunos são: o IM.  o LM e o Fernando. Responde que eles suspeitam que possa ter sido o FG a falar neles.

TDGM - colega
 
Data da diligência: 2003/02/18 (17 dias depois de eu ser preso)
Diz que não se dava muito bem com o FG, nem com o JPL, ou o MP ou o LM, porque não gostava muito das "suas atitudes", porque "só faziam porcaria".

10. Exame médico-legal

10/03/2003
Refere que a Polícia Judiciária chegou até si através das declarações de um seu colega de quarto, de nome JPL

11. Exame à Personalidade

Julho de 2003
Ao ser questionado sobre o porquê de não ter revelado o sucedido, refere "era sempre aquela coisa, era o medo de falar, a vergonha pelo que tinha acontecido, do que depois podia acontecer era sempre o medo de falar porque estávamos a lidar com pessoas de muito dinheiro quero que fiquem presos e lá a apodrecer..." (sic).

Alexandra Anciães técnica do Instituto de Medicina Legal que realizou as primeiras perícias, à Juíza de Instrução, a 31 de Março de 2004:
No que concerne LM, teve com ele 3 sessões de 4h30m cada, aproximadamente.

Não associa o facto de o LM ter dificuldade em fixar uma sequência de mais de três algarismos à falta de memória imediata.

Considera normal que um rapaz da idade do LM, com ansiedade pressão a mesma naquela situação e de decorrente dos próprios testes, não consiga memorizar mais que uma sequência de três ou quatro algarismos.

Confrontada com o facto de no processo individual organizado pela Casa Pia constar que a mãe do LM padecia de doença psiquiátrica grave, a declarante afirma que depende do tipo de doença a possibilidade de influenciar o LM.

Perfil Psicológico: 
Não tem perturbação da personalidade. Personalidade narcísica com algumas características anti-sociais (fazer os betos = roubar os “betos”). Já teve tentativas de suicídio.

12. Abusos relatados por LM

A perícia física (no INML) impõe a conclusão que o LM foi abusado com frequência, em data relativamente recente. (estamos em 10 de Março de 2003). Este é um pormenor importante quando ler o depoimento do prof. Costa Santos que fez as perícias físicas do INML.

Por exemplo. Disse em Tribunal em resposta a pergunta do Dr. Paulo Sá e Cunha:

Dr. Paulo Sá e Cunha: Sim, senhor. Nisso estou esclarecido. Outra expressão que é utilizada com frequência nas conclusões, e se calhar, para encurtar razões, nós falaríamos sobre elas já a propósito deste relatório… É que ao nível das CONCLUSÕES MÉDICO-LEGAIS, o senhor perito escreve, LM, e depois, generalizando… – penso que acontece isso em quase todos os outros, ou em todos os outros relatórios que vamos ver – “sinais, a nível do ânus, compatíveis com  a prática repetida de coito anal”. Prática repetida – mais uma vez fazendo apelo a um critério objectivo e quantitativo – deve entender-se por quê? O que é uma prática repetida?

Prof. Costa Santos: Repetida não é no sentido… não é no sentido, naturalmente, do Código Penal. Portanto, não é no sentido de continuada; é no sentido de frequente, no sentido de frequente. Para provocar alterações como algumas que vimos a nível do ânus e, em particular, da perda de tonicidade do esfíncter anal, é preciso que as relações sejam… se contem, pelo menos, pelas dezenas, porventura mais…

Assim, temos, segundo o perito, “relações recentes” e teriam que ser provocadas por “dezenas” de relações. LM queixa-se de abusos de há  4 e 3 anos antes do exame e só refere, durante o processo, 6 situações!

13. Psicóloga de LM durante 8 anos

Entre 1994 e 2002 LM foi acompanhado quinzenalmente pela psicóloga Dra. Cristina Mesquita, na Junta de Freguesia da Ajuda.  Não foi chamada a prestar declarações durante o inquérito e só lhe é pedida informação sobre o LM a 14 de Março de 2003 (42 dias depois de eu ser preso).

Mas foi ouvida em Tribunal. E disse:

Drª Cristina Mesquita
- Fiquei. Fiquei surpreendida. Aliás, antes de o fazer entrei em contacto, para perceber qual era... o que é que era importante constar, e o que eu pus foi o que eu achei que era importante. O LM realmente  tinha, tem, umas circunstâncias de vida tão complicadas, mas a esse nível nunca me trouxe nada, nem foi nada abordado nas minhas consultas. Por isso fiquei surpreendida, como fiquei surpreendida para vir hoje aqui.  (...)

Procurador: Há uma determinada imputação a determinadas pessoas. Até agora, nenhum Tribunal disse que aconteceu.  

Drª Cristina Mesquita:
Eu realmente continuo a achar que o LM ... Para mim é difícilaceitar, ou acreditar, ou sentir essa situação.  

Procurador
: Porquê?  

Drª Cristina Mesquita:
Porque eu vivi com o LM imenso tempo da minha vida, imenso tempo da vida dele, desde 94, ultrapassámos imensas situações, e acho que tínhamos abertura suficiente - eu continuo a pensar isto, e tenho alguma prática clínica - para que, se uma situação dessas tivesse aparecido, ele me pudesse contar.(...)

Advogada:
Apercebeu-se, ou alguma vez o LM lhe referiu isso, que houvesse um período em que ele tivesse mais dinheiro, em que tivesse comprado alguns objectos, alguma roupa, algo que fosse fora do vulgar no LM?  

Drª Cristina Mesquita:
Não, até porque o LM tinha sempre muito pouco dinheiro. Não me lembro de uma situação dessas. Aliás, nós até negociávamos... Eu tentei negociar com a mãe uma semanada, por isso não me apercebi que ele tivesse aparecido com coisas novas...  

Advogada:
E o LM alguma vez se queixou de não ter dinheiro, de ter falta de dinheiro para comprar o que queria?

Drª Cristina Mesquita:
Às vezes sim. Os gelados, as gomas...  

Advogada:
Queixava-se?  

Drª Cristina Mesquita:
Queixava.  

14. Informações adicionais

A partir do mês de Novembro de 1998, relata FG, o arguido Manuel Abrantes passou a contactá-lo para que fosse ter consigo a uma casa, identificada pelas letras MA [supostamente as iniciais de Manuel Abrantes], sita na Estrada Pedro Teixeira, perto do cemitério da Ajuda, em Lisboa, descrita no auto de fls. 3302.

Tal casa tinha um aspecto exterior descuidado, parecendo abandonada, sem vizinhos, estando situada num um local discreto, isolado e seguro. Essa casa era propriedade do ex-arguido Francisco José Soares Alves.

Até o ano de 1999, LM viveu com a mãe na Estrada Pedro Teixeira, bloco A, 10


  
Reconhecimento de FG a 5 de Setembro de 2003:

Bairro da Boavista
lote 3 num 2º Andar, onde diz ter-se deslocado com Carlos Silvino a fim de entregar crianças.

LM viveu com a mãe no Bairro da Boa Vista 


Em Tribunal, quando questionado como sobrevivia quando fugia da Casa Pia, LM responde:

LM
- Outras vezes a gente tinha de ir à escola de Carnide, que onde era, onde haviam os "betos".  

Juiz Lopes Barata
- Iam à escola de Carnide "fazer betos"?  

LM
- Sim.  

Juiz Lopes Barata
- E o que é que tiravam aos "betos"?  

LM
- Telemóveis, dinheiro.  

Juiz Lopes Barata
- Então quando não tinha dinheiro, iam aos "betos"?  

LM
- Sim. Pode ter acontecido um ou dois dias não ter ido a casa, ou mais durante algum tempo, mas quando ia a casa pedia dinheiro à minha mãe, quando, se não chegava, gastava aquele dinheiro, depois ia com os amigos da Horta Nova "fazer betos".  

Juiz Lopes Barata
- Da Horta Nova "fazer betos". Sim senhor. Quem é que o iniciou nessas actividades de "fazer betos"?  

LM
- Isso começou no quinto ano, o primeiro ano que eu estive no Colégio de Pina Manique.  

Juiz Lopes Barata
- Mas quem é que o iniciou? Alguém o levou e lhe disse como é que se fazia, qual era o modus operandi?  

LM
- Fomos por brincadeira, eu não sabia, foi a primeira vez que eu me pus numa coisa dessas e...  

Juiz Lopes Barata
- Foi com quem?  

LM
- Fui com um colega meu que morava no Bairro da Boavista que era o LG que era como a gente lhe chamava, que foi ele que me ensinou essas coisas.  

Juiz Lopes Barata
- E depois até era divertido, não é? Era só pedir e os "betos"davam tudo.  

LM
- Não. Algumas vezes a gente tinha que aleijar as pessoas.