> Porquê?

1 - Não é porque Carlos Cruz proclama a sua inocência que o leitor deve pôr em causa a sentença que o condenou. No país da falta de vergonha há por aí muitos mentirosos contumazes. Convido, pois, o leitor a fazer por si o escrutínio dessa decisão.


2 - Peço ao leitor que se coloque no lugar do Carlos Cruz ou que, no lugar dele ponha o pai, o marido, o irmão ou o amigo dilecto. Veja um homem de 61 anos, com mulher e filhos, carreira profissional brilhante, reconhecimento social e vida financeira desafogada. E veja o que dez anos de uma mentira fizeram dele: um morto-vivo, a quem só não roubaram a dignidade porque não puderam.

Compreenda então que a pedofilia é o mais horrendo dos crimes, mas uma falsa acusação de pedofilia é a mais sinistra das calúnias.

3 - Avalie com os seus próprios olhos as peças fundamentais do processo:

I) Ouvidas cerca de 900 pessoas (1/3 delas arroladas pela acusação), ninguém viu ou suspeitou de qualquer ligação entre Carlos cruz e as vitimas, o angariador, os outros arguidos ou os locais dos abusos; cruzados milhões de registos telefónicos entre os agentes da suposta rede e vasculhados milhares de documentos, não se apurou qualquer conexão entre Carlos Cruz e aquelas pessoas;

II) Relativamente a Elvas, Cruz começou a ser acusado de um abuso num sábado de 1999, o que se provou ser impossível; seguiu-se nova acusação, agora reportada a um dia da semana (no período das aulas), demonstrado que nesse período - e durante mais de doze anos -, a dona da casa, como ama da Segurança Social, recebia bebés (e as famílias) no espaço onde se disse que o abuso teria ocorrido, Cruz foi absolvido; mas houve quem continuasse a dizer que teria praticado o crime noutro dia (não se sabe qual, nem como);

III) Relativamente à Av. Das Forças Armadas, os crimes teriam sido cometidos na casa de uma enfermeira, entrando os jovens pela porta de acesso a uma empresa comercial; ouvida a enfermeira, os donos e os empregados da empresa, a porteira e os habitantes e utentes do prédio, ninguém viu ou suspeitou de nada, não se apurando qualquer contacto entre Cruz, as vitimas, o angariador e as pessoas de tal prédio;

IV) Sobrando (para o Tribunal) a "ressonância da veracidade" (seja lá o que isso for) dos depoimentos de três jovens, ignoraram-se contradições que só se explicam se tais pessoas mentiram ou efabularam; durante o julgamento as inconsistências foram ao extremo de, numa sessão, um jovem assegurar que Cruz não abusou dele para, uns dias depois, vir dizer que, afinal, foi por ele abusado;

V) Mais grave é que toda a "tramóia" da fantasia mentirosa, construída em intenso convívio com polícias e jornalistas, pode ser provada pela sequência das declarações prestadas em inquérito, que foram sendo ajustadas até justificarem a acusação, as quais, porém, não puderam ser utilizadas pela defesa dos arguidos, porque a lei portuguesa (com a bênção do Tribunal Constitucional) só o admite se os autores do perjúrio o autorizarem.

 

4 - Depois conclua por si e respeite que Carlos Cruz e os seus advogados não podem desistir da luta que acreditam que vão vencer.

 

Ricardo Sá Fernandes

Expresso de 06-04-2013