Processual > Francisco Guerra desmente Catalina... ou Vice-Versa!

Todas as afirmações aqui reproduzidas são declarações prestadas em Tribunal

 

1 - Um encontro na praia

 

31.03.05

Procurador -Sr.ª Doutora, relativamente às outras casas que a Sr.ª Provedora referiu por exemplo, a casa de Cascais, se o Francisco associou essa casa a alguém?  

Juiz Presidente -Casa de Cascais, ouviu se houve associação a alguém dessa casa?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Sim, Sr.ª Doutora houve.  

Juiz Presidente -O que é que ele lhe disse em relação a essa casa?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Disse que essa casa pertencia, ao Sr. Embaixador Jorge Ritto.  

Juiz Presidente -Disse-lhe alguma coisa mais? Ou a Sr.ª Provedora perguntou-lhe alguma coisa porque é que ele dizia isso? Ou ... ou como é que ele sabia isso?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Disse sim, Sr.ª Doutora. Disse que uma vez, tinha ido com o Sr. Carlos Silvino à zona do Estoril ao pé da praia, e que aí se encontraram com o Sr. Carlos Cruz e com o Sr. Embaixador e que o Sr. Embaixador terá dado a chave de casa de Cascais ao Sr. Carlos Cruz e que depois terão ido para essa casa?   

Juiz Presidente -Quem é que foi para essa casa? De acordo com o que lhe foi relatado por Francisco Guerra?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Não me lembro. O Francisco disse que tinha ido.  

 

13.10.05

Juíza Presidente - A Srª Drª Catalina Pestana, quando esteve aqui em Tribunal, relatou factos que terão sido contados pelo senhor e em que faz referência um encontro numa praia... na zona do Estoril. Factos relacionados com o Sr. Jorge Ritto. Lembra-se, esta referência que eu estou a fazer, lembra-lhe alguma coisa?  

Francisco Guerra - Srª Drª, nunca contei nada disso à Dr.ª Catalina.   

Juíza Presidente - Nunca referiu à Srª Drª Catalina Pestana, ter ido com o Sr. Carlos Silvino à zona do Estoril, ao pé da praia?

Francisco Guerra - Não, Srª Drª.   

Juíza Presidente - Terem-se encontrado com o Sr. Carlos Cruz... com o Sr. Jorge Ritto?  

Francisco Guerra - Não, Srª Drª. Porque, uma coisa é eu não me lembrar, mas disso sei porque isso não aconteceu. Portanto, eu não disse isso à Dr.ª Catalina Pestana.   

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2 - O Carro Fantasma

31.03.05

Juiz Presidente -Em relação à Casa de Elvas Francisco Guerra, deu-lhe conhecimento de mais algum facto em relação a essas deslocações? Como iam?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Iam segundo ele me disse ...  

Juiz Presidente  -Sim.  

Maria Catalina Batalha Pestana -... em carrinhas da Casa Pia. Disse-me uma vez, que tinham ido num carro uma grande máquina que lhe tinha sido emprestado ao Sr. Carlos Silvino por uns amigos que ele tinha num stand.

 

19.10.05

Drª Mª João Costa - Se confirma que... a Dr.ª Catalina Pestana referiu que o Sr. Francisco Guerra, nas conversas que teve com ela lhe relatou este facto. Se efectivamente, o fez? Porque se não o fez, Srª Drª, não tenho mais nada  

Juíza Presidente - E o facto, em concreto?  

Drª Mª João Costa - É que uma das vezes que foi a Elvas foi num carro emprestado por uns amigos dele, dele do Carlos Silvino, de um stand. Uma grande máquina.  

Juíza Presidente - Alguma vez teve uma conversa desta natureza, portanto, com o conteúdo que a Srª Drª acabou de reproduzir, com a Srª Drª Catalina Pestana?  

Francisco Guerra - Não, Srª Drª.   

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3 - Fotos e Tecnologia

 30.03.055

Maria Catalina Batalha Pestana  - O Francisco disse-me ... um dos dias, que os clientes, e era ainda o vácuo, ainda o indefinido, telefonavam para o Silvino e depois ele, Francisco, ia a determinadas moradas levar um envelope grosso. E o que é que tinha o envelope? Não sei. Uma coisa sei, tinha fotografias porque o Silvino tinha uma máquina digital, fotografava muitos garotos, e eu também ... eu aprendi a trabalhar com computadores, por causa das fotografias e ele levar as fotografias aos clientes e depois iam lá dentro mais papéis, que eu acho ... disse-me o Francisco, que eram análises.   

 

21.09.05

Francisco Guerra - Não. Nunca tirei fotografias, nem filmei.

Dr. Paulo - Ó Srª Drª, se independentemente da resposta que agora deu, se alguma vez, imprimiu fotografias digitais, deste tipo de actos? Se alguma vez fez essa operação?

Juíza Presidente - Continua com a mesma advertência, de que pode recusar-se a responder em relação a factos que possam imputar responsabilidade criminal para si.

Francisco Guerra - Não. Nunca imprimi, Srª Drª Juiz

Juíza Presidente - ...  

Dr. Sá Fernandes - O Sr. Francisco Guerra, já teve oportunidade de dizer que tudo o que tinha dito aqui em audiência, também tinha dito à Drª Catalina Pestana. E a pergunta que eu lhe faço é se não disse à Drª Catalina Pestana que o Sr. Silvino tinha uma máquina digital?  

Juíza Presidente - Alguma vez referiu isso à Srª Drª Catalina Pestana?  

 Francisco Guerra - Não me lembro Srª Drª Juíza, de lhe ter dito.  

 Dr. Sá Fernandes - E alguma vez disse à Drª Catalina Pestana que tinha aprendido a trabalhar com um computador, por causa das fotografias? Da impressão das fotografias?  

Juíza Presidente - Pode esclarecer.  

Francisco Guerra - Não Srª Drª. Nunca disse.  

Dr. Sá Fernandes - Portanto, quando a Drª Catalina Pestana referiu isso nesta audiência, estava equivocada?  

Juíza Presidente - O senhor teve alguma conversa com a Srª Drª Catalina Pestana? Sobre computadores? Sobre fotografias? Sobre impressão de fotografias em computador?  

Francisco Guerra - Sobre computadores tive, Srª Drª Juíza. Eu tirei um curso de informática na Casa Pia de Lisboa. Ahn... Falei algumas vezes sobre esse meu curso com a Drª Catalina Pestana. Sobre impressão de fotografias, ou... ou... perdão, a ver com máquinas fotográficas, que eu me recorde, nunca falei com a Srª Drª Catalina Pestana sobre isso. Sobre esse assunto.

Juíza Presidente - Nunca teve qualquer conversa sobre revelação de fotografias, relacionado com o Sr. Carlos Silvino?  

Francisco Guerra - Srª Drª, que eu me recorde, não. Que eu me recorde, não tive qualquer conversa relacionado com computadores, ou com máquinas fotográficas...  

  

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4 - O Pedro e o "Posto 28"

 

15.04.05

Maria Catalina Batalha Pestana -Ele disse-me que fora levar garotos para o Dr. Ferro Rodrigues, uma das ... dos locais que me lembro, claramente de ele me ter dito foi Vila Viçosa, perguntei-lhe quem, ele disse que era um aluno de Maria Pia chamado Pedro e disse aonde é que ia buscar, que era ao pé do posto 28, e onde é que o ia deixar.


19.10.05

Drª Mª João Costa - Referiu que o Sr. Francisco Guerra lhe disse que fora levar garotos para o Dr. Ferro Rodrigues e agora, e estou a citar, Srª Drª, é toda esta parte: "um dos locais que me lembro claramente de ele me ter dito foi Vila Viçosa. Perguntei-lhe quem e ele disse-me que era um aluno de Maria Pia chamado Pedro e disse aonde o ia buscar. Que era ao Posto 28 . E onde é que o ia deixar." 

Francisco Guerra - (ri) Isso não é verdade.   

Voz de homem - (imperceptível)  

Drª Mª João Costa - Como? Está no resto das declarações da Dr.ª Catalina.  

Juíza Presidente - Vou-lhe pedir um esclarecimento. O senhor está advertido, como tem estado sempre ao longo da sessão, do dever de responder, de responder com verdade ao que lhe for perguntado, podendo recusar-se se da resposta puder resultar responsabilidade criminal para si. Alguma vez o senhor foi com o Sr. Carlos Silvino buscar um rapaz de nome Pedro, junto de um Posto 28, para depois o levar com o Sr. Carlos Silvino para Vila Viçosa?  

Francisco Guerra - Não, Srª Drª.   

(...)

Drª Mª João Costa - Se Posto 28 , posto 28 , esta designação lhe diz, ou lhe invoca algum local, alguma coisa, alguma... situação?  

Juíza Presidente - Posto 28 . A palavra Posto 28  lembra-lhe alguma coisa?  

Francisco Guerra - Não

  

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5- Ameaças

Recordemos que Francisco Guerra disse à Judite de Sousa, na RTP 1 , que  nunca foi ameaçado                                            

Procurador -Embora presuma a resposta mas se o Francisco referiu relativamente às outras ameaças se sabia de quem eram? Ou por quem é que foram feitas? Há este telefonema e há as outras do "apago-te". Se falas apago-te, apagamos-te ou apago-te.  

Juiz Presidente -Francisco Guerra referiu mais algum nome de alguma pessoa que de acordo  com o que ele relatasse o tivesse ameaçado, forçado ou ...  

 

Maria Catalina Batalha Pestana -Ele disse que era gente do esquema, mas nominalmente a mim não referiu ninguém em concreto.   

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6 - As Análises

30.03.05

 

Maria Catalina Batalha Pestana - (...) O Francisco disse-me ... um dos dias, que os clientes, e era ainda o vácuo, ainda o indefinido, telefonavam para o Silvino e depois ele, Francisco, ia a determinadas moradas levar um envelope grosso. E o que é que tinha o envelope? Não sei. Uma coisa sei, tinha fotografias porque o Silvino tinha uma máquina digital, fotografava muitos garotos, e eu também ... eu aprendi a trabalhar com computadores, por causa das fotografias e ele levar as fotografias aos clientes e depois iam lá dentro mais papéis, que eu acho ... disse-me o Francisco, que eram análises.   Depois passados dois dias o Silvino ia comigo levar um ou dois, ou três rapazes a moradas diferentes. Esperávamos cá em baixo e depois trazíamo-los de volta.   

  

28.09.05

Juíza Presidente - Se alguma vez disse à Srª Drª Catalina Pestana se depois de entregar as análises, passado dois dias, um ou dois dias, depois que iam levar rapazes a esses locais?  

Francisco Guerra - Srª Drª, sinceramente, não me lembro de ter dito isso à Drª Catalina Pestana.  

Juíza Presidente - E a outros locais diferentes?  

Francisco Guerra - Srª Drª, eu não me lembro dessa situação, de... não me lembro de ter relatado isso à Drª Catalina Pestana.  

  

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7 - As Fotos dos "Gajos da Rede"

  

15.04.05

Maria Catalina Batalha Pestana  -Nesse dia, no Centro Jovem Tabor, o Francisco mostrou-me de facto um conjunto de fotografias de pessoas que eu não conhecia de sítio nenhum, onde não se viam garotos, fossem quem fossem, em situações que pudessem ser interpretadas como indiciadoras de abusos sexuais. Disse-me que iria entregar à Polícia Judiciária fotografias que ele tinha. O Francisco Guerra, tanto quanto eu posso percepcionar, teve documentos importantes, fotografias, agendas. Teve. Uns queimou

Juiz Presidente  -Quando diz, "tanto pode percepcionar" foi por ele lhe ter dito ...  

Maria Catalina Batalha Pestana -Foi por ele ter dito. Foi por ele ter dito. Primeiro dizia "tenho", depois imagino ... não sei, que também dizia à Polícia "tenho", não é? Eu pelo menos dizia à Polícia, "ele diz que tem".  

Juiz Presidente  - A si, Sr.ª Provedora, que caminho é que ele disse, se é que disse, que levaram esses documentos ou fotografias?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Ele nunca disse ... nunca disse tudo, ainda hoje ... hoje, quer dizer hoje não, mas a semana passada, ele diz sempre que tem uma carta na manga, eu acho que não tem ...  

Juiz Presidente -Mas deu alguma explicação em relação ao caminho ou ao fim dessas tais fotografias ou desses tais documentos?  

Maria Catalina Batalha Pestana  -Uma parte, uma parte ele diz que destruiu e foi possível constatar porque foi dentro de Pina Manique ao pé de uma árvore, ele diz que lhe puxou fogo. E havia lá cinzas, podiam ser de jornais, eu não sei do que eram as cinzas, também não sei se o Francisco Guerra tem ainda alguma coisa ou não.  

Juiz Presidente  -E  essas fotografias que ele lhe mostrou no Centro Jovem Tabor, disse-lhe que eram ... ou de que era aquelas fotografias?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Que eram gajos da rede. E eu disse para ele dar à Polícia. Sr.ª Doutora eu evitei sempre meter-me em questões que não eram da minha competência específica.  

Juiz Presidente -Sr.ª Provedora certo, mas a Sr.ª Provedora foi uma pessoa que durante determinado período de tempo, nomeadamente entre Novembro de 2002 (dois e dois) e daí para a frente, uma das pessoas que teve alguma proximidade com o Francisco Guerra.  

Maria Catalina Batalha Pestana -Muita.  

(...)

Juiz Presidente -Foi o que ficou gravado, disse para entregar à Polícia. Já tinha dito.  

Maria Catalina Batalha Pestana  -Eu já disse isso. Eu disse ao Francisco Guerra, para aquelas fotografias que ele me mostrou e que não tinham ninguém que eu conhecesse nem nenhuma criança indiciando qualquer atitude de vitimização ...  

Juiz Presidente -Mas tinha algum criança ou não?  

Maria Catalina Batalha Pestana  -Ah, não me lembra Sr.ª Doutora.  

Juiz Presidente -Não se recorda, pronto. Isso é importante, pelo menos da ideia ...  

Maria Catalina Batalha Pestana -Não me lembra.  

Juiz Presidente -... no sentido da confirmação.  

Advogado -E tem alguma explicação para o facto de ele não as ter entregue? Pelo menos não ... não existem no processo.  

Maria Catalina Batalha Pestana -Ah, não tenho ...  

Juiz Presidente -Sr.ª Provedora tem conhecimento se ele disse que as entregou ou se alguém da Polícia disse à ... à Sr.ª Provedora que as tinha?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Não, Sr.ª Doutora não me lembro. Eu tive aquela longa conversa, e eu sei que eu disse à Polícia o que ele me tinha dito, mas não era com aquelas fotografias que se chegava muito longe.  

(...)

Advogado -O que a Sr.ª Provedora disse foi que aquelas fotografias eram de gajos da rede.

Juiz Presidente -Exacto, foi isso.  

Advogado -Então se eram de gajos da rede, para a Polícia podiam ser importantes.

Maria Catalina Batalha Pestana -Ah, isso não sei, Sr. Doutor perguntará à Polícia.  

(...)

Advogado -Só mais uma pergunta, sobre a questão do muro, ou se calhar já nem é sobre o muro. A Sr.ª Provedora disse agora que ele ainda hoje diz que tem uma carta na manga.  

Maria Catalina Batalha Pestana -Posso sim Sr.ª Doutora, acabei de afirmar ...  

Juiz Presidente -Disse há pouco, exacto.  

Maria Catalina Batalha Pestana -... que ele ainda hoje diz que quando chegar a Tribunal é que vão ver que o Francisco Guerra nunca mentiu.  

  

28.09.05

Dr. Sá Fernandes - Então, a pergunta que se segue é a seguinte: que fotografias, se isso for verdade, é que ele mostrou à Drª Catalina Pestana, quando a Drª Catalina Pestana conversou com ele no Centro Tabor, uma conversa que segundo me recordo, foi até sentados em cima de um muro, e em que, segundo a Drª Catalina, o Sr. Francisco Guerra terá mostrado fotografias de adultos que pertenceriam à rede?  

Juíza Presidente - Alguma vez, em alguma circunstância, mostrou alguma fotografia à Srª Drª Catalina Pestana, concretamente, Centro Jovem Tabor, se mostrou algumas fotografias à Srª Drª Catalina Pestana, e na afirmativa, quais, o quê e em que circunstâncias?  

Francisco Guerra - Srª Drª Juíza, mostrei sim à Drª Catalina Pestana, fotografias que no quais, são as mesmas fotografias que entreguei à Polícia Judiciária.

Dr. Sá Fernandes - As fotografias que o Sr. Francisco Guerra diz que entregou à Polícia Judiciária, são fotografias de jovens e as fotografias que a Drª Catalina diz que lhe foram mostradas pelo Sr. Francisco Guerra, eram fotografias de adultos.  

Juíza Presidente - Sim, Sr. Dr.  

Dr. Sá Fernandes - Se conf, se mantém, se mantém que não mostrou fotografias de adultos, à Drª Catalina?  

Juíza Presidente - Tem ideia de quais, que fotografias é que mostrou à Srª Drª Catalina Pestana?  

Francisco Guerra - Srª Drª Juíza, ahn... com os jovens que lá estavam nas fotografias, possivelmente a Drª podia ter visto ali adultos.  

Juíza Presidente - Não. Eu estou-lhe a perguntar, eu não lhe estou a pedir para o senhor esclarecer o porquê da Srª Drª Catalina Pestana ter prestado determinadas declarações em Tribunal.  

Francisco Guerra - Claro. Com certeza.  

Juíza Presidente - Estou-lhe a perguntar se tem ideia em concreto, que fotografias é que mostrou à Srª Drª Catalina Pestana?  

Francisco Guerra - As mesmas que entreguei à Polícia Judiciária. Portanto, as que tinham o João Paulo e alguns colegas que eu não conhecia. Foi as mesmos que eu mostrei à Srª Drª Catalina.  

Juíza Presidente - Tem a certeza?  

Francisco Guerra - Tenho a certeza absoluta, Srª Drª.  

 

09.06.06

 

Advogado  - Afinal, era mesmo uma antepenúltima pergunta, porque há só mais duas, outra. Sr. Inspector Chefe, alguma vez, o Sr. Francisco Guerra lhe deu fotografias para guardar?  

Inspector Dias André -Não tenho.  

Advogado -Ou para juntar aos autos?  

António José Dias André -Se deu para juntar, estarão juntas, aquilo que deu, agora, para guardar ...  

Advogado -Mas recorda-se, fotografias com relevo para os autos?  

António José Dias André  -Não.  

Advogado -Alguma fotografia em que aparecesse o JPL? Que lhe tivesse sido entregue pelo Francisco Guerra.  

António José Dias André -Sr. Doutor, se foi entregue, estará nos autos, não estando nos autos, não ... não me lembro, não entregou se ... necessariamente fotografias onde estivesse alguma situação dessas, não há qualquer possibilidade de não estarem nos autos, porque estariam lá.  

Advogado -Muito bem, muito bem. Sr. Inspector Chefe, o Sr. Inspector ...  

 

Até hoje nunca apareceu qualquer fotografia entregue por Francisco Guerra. Ou não existem (mas ele mostrou-as à Dra Catalina) ou não as entregou, ou entregou e a investigação escondeu-as. Porquê? Serão Mais Uma "Não Prova"?

 

Deixo ainda outra versão sobre o que terá acontecido com as ditas fotos:

Inspectora Coordenadora Rosa Mota -Realizámos uma busca ao sótão de um dos lares, realizámos uma busca num espaço de um dos colégios, andámos lá a cavar qualquer coisa.

Advogada -A cavar?

Inspectora Coordenadora Rosa Mota -A cavar, se não foi a cavar, foi uma coisa ...imperceptível...

Advogada -Cava, cavar?

Inspectora Coordenadora Rosa Mota -Se não foi assim, foi uma coisa idêntica, Sr.ª Doutora, eu não estava lá.

Advogada -Pronto, sim.

Inspectora Coordenadora Rosa Mota -À procura de coisas, no local ... num local externo...

Advogada -Que estariam enterradas, é isso?

Inspectora Coordenadora Rosa Mota - Que estariam enterrados.

Advogada -Relacionado com quê, lembra-se? No caso concreto.

Inspectora Coordenadora Rosa Mota -Com umas fotografias, uns documentos, pertencentes ao Sr. Carlos Silvino.

Advogada -Encontraram alguma coisa?

Inspectora Coordenadora Rosa Mota -Que teriam sido posteriormente queimados.

Advogada -Encontraram alguma coisa?

Inspectora Coordenadora Rosa Mota -Sr.ª Doutora, que teriam sido queimados, posteriormente teriam sido queimados.

 

A pergunta que fica à investigação é se: primeiro cavaram e depois é que descobriram que as fotos teriam sido queimadas ou foi ao contrário? Isto é: escavaram nas cinzas  ou escavaram e encontraram cinzas enterradas que, de acordo com Catalina Pestana, podiam ser de jornais queimados?

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A "CREMAÇÃO" NAS VERSÕES DE CATALINA, FRANCISCO GUERRA E JPL

 

15.04.05

Maria Catalina Batalha Pestana -Ele nunca disse ... nunca disse tudo, ainda hoje ... hoje, quer dizer hoje não, mas a semana passada, ele diz sempre que tem uma carta na manga, eu acho que não tem ...  

Juiz Presidente -Mas deu alguma explicação em relação ao caminho ou ao fim dessas tais fotografias ou desses tais documentos?  

Maria Catalina Batalha Pestana -Uma parte, uma parte ele diz que destruiu e foi possível constatar porque foi dentro de Pina Manique ao pé de uma árvore, ele diz que lhe puxou fogo. E havia lá cinzas, podiam ser de jornais, eu não sei do que eram as cinzas, também não sei se o Francisco Guerra tem ainda alguma coisa ou não.  

  

14.09.05

Francisco Guerra - Acontece que quando foi instaurado o processo disciplinar ao Carlos Silvino eu fui chamado à Provedoria da Casa Pia de Lisboa para prestar declarações a um inquérito interno. No dia a seguir, o Carlos Silvino pediu-me para que eu destruísse fotografias onde constava vários arguidos deste processo, ahn... crianças e jovens da Casa Pia de Lisboa, incluindo a mim. Destruí tudo na própria Casa Pia de Lisboa,  

Juíza Presidente - Espere, espere, espere. Mas onde é que o Sr. Carlos Silvino lhe deu, em que sítio é que ele lhe deu essas fotografias e essa agenda?  

Francisco Guerra - Portanto, ele trazia tudo aquilo no carro da Casa Pia, no Peugeot. Entregou-me tudo na garagem, à noite. E pediu-me para que eu queimasse tudo o mais rápido possível.  

(..)

Juíza Presidente - E o senhor destruiu quando?  

Francisco Guerra - Destruí nesse mesmo dia. Estava um colega meu a presenciar também.  

Juíza Presidente - Quem era esse colega? Ou quem é esse colega?  

Francisco Guerra - JPL

Juíza Presidente - E em que local é que fez essa destruição?  

Francisco Guerra - Foi ao pé de um campo de ténis, do Colégio de Pina Manique.  

  

19.09.05

Francisco Guerra - Após ter prestado declarações na Provedoria da Casa Pia, passados dois, três dias, foi quando tudo terminou. E também passado, nesse, que foi no mesmo dia que tudo terminou que foi quando eu queimei tudo o que o Carlos Silvino me pediu.  

Juíza Presidente - Portanto, dois, três dias, após ter prestado declarações.  

Francisco Guerra - Correcto, Srª Drª.  

Dr. Paulo - Srª Drª, só preciso de tempo para localizar aqui um documento, mas entretanto podemos prosseguir, não é? Esse, esse episódio de ter queimado os documentos, que o assistente já relatou, eu creio que o assistente fez referência de que quando queimou os documentos, fê-lo na presença do Sr. JPL. Se confirma isto?  

Juíza Presidente - Referiu isso. De qualquer forma, eu vou pedir um esclarecimento adicional que é o seguinte: em relação a documentos que o senhor diz terem-lhe sido entregues pelo Sr. Carlos Silvino e que o senhor queimou. Os que queimou, foi todos na presença do Sr. JPL?  

Francisco Guerra - Foi sim, Srª Drª Juíza.  

Dr. Paulo - E confirma que isso só aconteceu depois de ter prestado declarações no processo disciplinar?  

Juíza Presidente - Foi o que disse hoje.  

(...)

Francisco Guerra - Após ter prestado declarações na Provedoria da Casa Pia, passados dois, três dias, foi quando tudo terminou. E também passado, nesse, que foi no mesmo dia que tudo terminou que foi quando eu queimei tudo o que o Carlos Silvino me pediu.  

Juíza Presidente - Portanto, dois, três dias, após ter prestado declarações.

(...)

Francisco Guerra - Após ter prestado declarações na Provedoria da Casa Pia, passados dois, três dias, foi quando tudo terminou. E também passado, nesse, que foi no mesmo dia que tudo terminou que foi quando eu queimei tudo o que o Carlos Silvino me pediu.  

Juíza Presidente - Portanto, dois, três dias, após ter prestado declarações.  

Francisco Guerra - Correcto, Srª Drª.  

  

Ora bem:  a prova de mais uma grande mentira:

Francisco Guerra diz que queimou as fotografias dois ou três dias depois de  ter prestado declarações no processo disciplinar de Carlos Silvino. E isso quando foi?

Foi em Fevereiro de 2002. Mas JPL foi expulso (não fugiu) da Casa Pia em Junho de 2000. Portanto dois anos antes!

E o que disse JPL em Tribunal?

22.07.05

Drª Mª João Costa - Srª Drª, então e na sequência destas respostas, o Sr. JPL a instâncias do meu ilustre colega, Dr. Ricardo Sá Fernandes, referiu na última sessão, se não estou em erro, no dia 20 (vinte) que viu fotos dos arguidos... e de casas que estavam na posse do Sr. Francisco Guerra; não tinha visto a de Elvas que diz, na qual foi retratado juntamente com os restantes assistentes e com os arguidos, mas viu outras. Essa não viu. Mas viu outras que estavam na posse do Sr. Francisco Guerra e que ele as queimou, bem como, outros documentos. E a questão, é antes de mais nada, quando é que viu essas fotos e em que momento é que viu Francisco Guerra proceder à queima das mesmas?  

Juíza Presidente - Compreendeu a pergunta?  

JPL - Compreendi, sim.  

Juíza Presidente - Pode responder, então.  

JPL - Srª Drª, para responder ao Tribunal, eu não, não me recordo, no preciso momento, o dia, o ano ou em que altura é que o Francisco queimou esses documentos. Sei que os vi. Nada mais posso falar sobre isso. Apenas o próprio o poderá esclarecer.  

Drª Mª João Costa - Se foi antes, Srª Drª uma referência, se foi antes de rebentar o processo, utilizando um marco referido, de referência do Sr. Lavaredas.  

Juíza Presidente - Pode responder, Sr. João Paulo.  

JPL - Srª Drª, como eu já referenciei ao Tribunal, eu ainda estava na Casa Pia. Portanto, foi antes do processo.  

Drª Mª João Costa - Ainda estava?  

Juíza Presidente - Ainda estava na Casa Pia. Foi antes do processo.  

Drª Mª João Costa - Eu tenho aqui alguma dificuldade, talvez pela posição do microfone, em ouvir. Ainda estava na Casa Pia de Lisboa. Ou seja, foi antes de Agosto de 2001 (dois mil e um). Se confirma?  

Juíza Presidente - Ainda estava na Casa Pia, Srª Drª.  

(..)

JPL - Srª Drª, foi a única vez que eu vi o Francisco com fotografias e documentos, papéis. E que os queimou. Nada mais posso falar sobre isso.  

Drª Mª João Costa - Se ambos estav...  

Procurador - (imperceptível) saiu em 2000 (dois mil), não é 2001 (dois mil e um).  

Juíza Presidente - Eu não... em relação a isso, não pedi confirmação porque há documento no processo, Sr. Dr.  

Drª Mª João Costa - Não percebi, desculpe, Srª Drª.  

Juíza Presidente - 2000 (dois mil). O Sr. Dr. está a fazer rectificação à saída. 2000, 2001 (dois mil, dois mil e um) há documento no processo, Sr. Dr. e foi por isso.  

Drª Mª João Costa - Pronto. Mas muito bem, então  

Juíza Presidente - Pedido de esclarecimento, Srª Drª.  

Drª Mª João Costa - Por referência, se se recorda, na altura o Francisco Guerra estava no mesmo lar, no mesmo quarto que o assistente?  

Juíza Presidente - Nessa altura, Francis, em que o senhor diz que viu as fotografias e viu queimar, Francisco Guerra estava no seu lar? Estava no seu quarto, ou não?  

JPL - No meu lar estava; agora, no meu quarto, não.  

Conclusão única e possível: Francisco Guerra nunca queimou nada, inventou a história e pediu a JPL para corroborar. Mas não se aperceberam dos anacronismos e saíram estes depoimentos em que o Tribunal encontra "ressonância da verdade"! Como é que se  conjugam estas histórias? Estamos a falar de 2 anos de diferença!

E admitindo, por absurdo, que Francisco Guerra queimou documentos, ou seja o que for, em Fevereiro de 2002, como é que a Drª Catalina encontra cinzas em Dezembro (quando assumiu o cargo de Provedora), 11 meses depois? Cinzas perenes e imunes à meteorologia?

De novo o leitor tirará as suas conclusões.

  

Nesse depoimento, entretanto, Francisco Guerra nega ter sido abusado por Carlos Silvino. Pelo menos até Fevereiro de 2002 altura do seu depoimento.