Francisco Guerra > Francisco Guerra na TV - O "Braço Direito de Bibi"

 

Quanto a ser ou não "braço direito de Bibi" o Acórdão do Tribunal diz:

a altura em que se descreve, ou pelo menos assim o interpretamos, como o braço direito do arguido Carlos Silvino da Silva." (sic)

Nota: em todos os documentos aqui reproduzidos, do Inquérito, a expressão "depoente" refere-se a Francisco Guerra.

 

06.01.05 (em Inquérito)

 

 

26.09.03 (em Tribunal)

Dr. Serra Lopes - Passando a outro assunto, Srª Drª Juíza. Eu gostaria que o assistente explicitasse, em concreto, o caso de educandos da Casa Pia, que se deslocavam ao estrangeiro por iniciativa do Silvino, para ir terem relações sexuais com adultos. Se pode indicar algum? Referir um deles, dois, três?

Juíza Presidente - O senhor tem conhecimento de algum colega seu que com intervenção do Sr. Carlos Silvino, tenha ido para fora de Portugal para ter relações com adultos? De natureza sexual, com adultos?

Francisco Guerra - Não, não tenho, Srª Drª Juíza.

 

 

 

 

27.01.03 (em Inquérito)

11.02.03 (em Inquérito)

 

  

  

14.10.05 (em Tribunal)

Dr. Paulo Sá Cunha -(...) alguma vez em que o assistente não tenha sido sexualmente abusado, recebeu dinheiro do Sr. Carlos Silvino? Ou só recebia dinheiro das vezes em que era sexualmente abusado por quem quer que fosse, não interessa agora o arguido, em concreto, Srª Drª? Ou a situação concreta.

Juíza Presidente - (...). Pode responder.

Francisco Guerra - Srª Drª, eu recebia dinheiro do... do arguido Carlos Silvino quando ia, portanto, quando era abusado, ahn... sexualmente, por estes arguidos que aqui estão. Ahn... não me lembro de ter recebido, em qualquer circunstância, dinheiro do arguido Carlos Silvino sem ser nessa, nessa circunstân, nesse... ponto que eu acabei de referir ao Tribunal.

Dr. Paulo Sá Cunha - Oh Srª Drª, então, só para ficar claro. Portanto, sempre que se limitava a acompanhar o Sr. Carlos Silvino, de todas essas vezes, nunca recebeu qualquer dinheiro?

Juíza Presidente - Não se lembra de, alguma vez ter recebido dinheiro a não ser naquelas situações em que tivesse sido abusado sexualmente.


17.07.03 (em Inquérito)

  

28.07.03 (em Inquérito)

  

  

30.07.03 (em Inquérito)

  

18.11.03 (em Inquérito)

  

  

12.09.05 (em Tribunal)

Juíza Presidente - Porque é que o senhor ficou cá em baixo nesse dia?

Francisco Guerra - porque a partir de certa altura... passei a... estar ao lado do Silvino a... passei a fazer aquilo que ele me pedia. Deixei um pouco de ser abusado para fazer aquilo que ele me pedia.

Juíza Presidente - E dessas vezes em que foi sozinho, ou em que foi com outros colegas foi alguma... o senhor ficou cá em baixo? Subiu?

Francisco Guerra - Ahn... Srª Drª, eu a partir de certa altura passei a ficar sempre, a acompanhar o Silvino em tudo o que fosse, naquilo que ele me pedisse.

(...)

Procurador - O assistente disse ainda, e passo a citar: "A partir de certa altura passei a estar do lado do Silvino. Deixei um pouco de ser abusado para fazer aquilo que ele me pedia." A pergunta que eu sugiro é a seguinte: Concretamente o que é que o arguido Carlos Silvino lhe pedia?

Juíza Presidente - Pode responder, Sr. Francisco Guerra.

Francisco Guerra - Ahn... passei de, se assim se pode dizer, de ser só abusado, e passei também a colaborar com aquilo que o Carlos Silvino me pedia. Ahn... O Carlos Silvino pedia-me várias coisas, ahn... desde entregar alguns documentos a algumas pessoas, fazer-lhe alguns recados, ahn... tudo o que ele me pedia, eu fazia.

Procurador - Quando havia outros rapazes envolvidos nas deslocações aos diferentes locais que o assistente já referenciou, o arguido Carlos Silvino pedia alguma coisa ao assistente, nomeadamente que os contactasse previamente, que fosse o assistente Francisco Guerra a contactá-los?

Juíza Presidente - Em relação aos rapazes?

Procurador - Aos rapazes.

Juíza Presidente - Pode responder

Francisco Guerra - Ahn... algumas vezes aconteceu o Carlos Silvino pedir-me que falasse com alguns rapazes, inclusive que os contactasse, ahn... ou dentro do próprio meu lar, ou nos outros lares do Colégio de Pina Manique. Aconteceu poucas vezes, mas aconteceu.

 

26.09.05 (em Tribunal)

Francisco Guerra - (...) Na linha abaixo, portanto, tem, tem mais ou menos, penso que foi, até foi mais, o tempo que eu colaborei ahn... portanto, com eles. Andei neste esquema, como eu costumo dizer.

Dr. Paulo Sá e Cunha - Portanto, se isto significa que o assistente colaborou cinco anos nas angariações. É isso? O cinco, são cinco anos?

Juíza Presidente - Até tem mais, disse, é o tempo, até tem mais do tempo que andou neste esquema. No que chama esquema.

(...)

Juíza Presidente - Quando o senhor referiu, e referiu várias vezes, a palavra "esquema", tendo já esclarecido como é que utilizava essa expressão, estava-se a referir a mais pessoas, para além das que estão identificadas neste processo, quer no que está aqui a ser julgado, quer numa parte que ainda está sob recurso e que portanto, inicialmente fez parte deste processo?

Francisco Guerra - Ehn... são todos aqueles nomes que eu já disse aqui em Tribunal. Ahn... (imperceptível) os Alfredo Casim, os irmãos Casimiro, o caso do Paulo Pedroso, portanto, todos os nomes que eu já referenciei.

  ***

Francisco Guerra fez uma série de apontamentos enquanto esteve no centro Tabor em Setúbal (de 16 de Janeiro a  30 de Maio de 2003). Entregou uns ao inspector Dias André e outros à Drª Catalina Pestana. Apesar da sua importância para entender a personalidade de Francisco Guerra, nem Dias André nem Catalina Pestana os enviaram para o Processo. Foi uma descoberta casual  (durante o depoimento da Provedora) que levou as defesas a requererem a sua junção aos Autos. Esses apontamentos irão sendo mostrados aqui no site.

Este foi entregue à Drª Catalina Pestana que guardou silêncio sobre eles

 

13.01.05 (em Tribunal)

Juiz Presidente -Foi o Senhor que abriu esse sobrescrito com dinheiro que levava?  

Carlos Silvino da Silva -Não, não.  

Juiz Presidente -Não.  

Carlos Silvino da Silva -Não cheguei a abrir, entreguei ao Francisco Guerra e o Francisco Guerra entregou aos alunos.  

 

16.12.05 (em Tribunal)

Carlos Silvino Silva -Talvez finais ... finais de 2001 (dois mil e um) ou meio de 2001 (dois mil e um) ou assim, não sei. O Francisco Guerra é que sabe disso, porque o Francisco Guerra é que tinha os contactos.  

(...)

Carlos Silvino Silva -Foi na altura que eu estava ... os miúdos a entrar para a carrinha para me vir embora, quando ele entrega-me um envelope a dizer que o dinheiro era para os miúdos. E eu entreguei o envelope e o dinheiro foi distribuído, foi o Francisco Guerra que distribuiu o envelope ... o dinheiro pelos miúdos. Eu nunca fiquei com um tostão para mim, para isso tinha um apartamento ou tinha ... portanto, uma casa em condições, não morava numa barraca Sr.ª Doutora.  

(...)

Carlos Silvino Silva -Sim, sim. Porque fui duas vezes lá em cima, está aqui no "coiso", no ... escrito. Fui duas vezes lá em cima e sim senhora recebi ... portanto, um envelope do Sr. Carlos Cruz e o outro envelope foi o Francisco Guerra que o recebeu, o meu braço direito, como dizem que é o meu braço direito.

 

17.10.05 (em Tribunal)

Francisco Guerra - Srª Drª, ahn... era entregue um envelope ao arguido Carlos Silvino, com dinheiro; dava dinheiro a nós. Supostamente, ficaria com dinheiro. E a conclusão que eu tenho é que ele ficaria com mais dinheiro, por aquilo que fazia. É a ideia que eu tenho, Srª Drª.  

Juíza Presidente - Portanto, é que ficaria com mais do que lhe dava a si. É isso?  

Francisco Guerra - Sim, Srª Drª. Sim.  

12.01.05 (em Tribunal)

Juiz Presidente -Nunca abriu, nunca ... nunca ficou com qualquer dinheiro, mas sendo o subscrito dado a si, tendo dinheiro que o Senhor sabia que era dinheiro, que entregava aos rapazes, porque disse isso aqui em Tribunal, se de facto, se nunca falou sobre isso com os rapazes, se nunca soube quanto é que estava lá dentro?  

Carlos Silvino da Silva -Nunca falei, nem nunca soube porque os rapazes sabiam portanto para onde é que iam, e sabiam que iam ganhar dinheiro, portanto à conta do que iam fazer.  

Juiz Presidente -Sim, mas o Senhor nunca teve curiosidade quanto é que ... quanto é que lá estava dentro ...  

Carlos Silvino da Silva -Não, a única vez ... a única vez ...  

Juiz Presidente -Nem nunca teve conversas?  

Carlos Silvino da Silva -A única vez que eu soube, foi pelo Francisco Guerra, que era 20 (vinte) contos, quando fomos a Elvas.  

(...)

Advogado -Mas não viu?  

Carlos Silvino da Silva -Não vi, não vi.  

Juiz Presidente -Não viu o dinheiro?  

Carlos Silvino da Silva -Não vi, porque eles é que ... o Francisco Guerra é que distribuía o dinheiro por eles, isso tenho a confirmação.  

 

10.01.05 (em Tribunal)

Juiz Adjunta -Ainda colocando ali a tónica na ... nas perguntas que o meu colega lhe colocou, relativamente aos envelopes/dinheiro. O Senhor tinha acesso ao montante, isto é, sabia quanto dinheiro é que estava lá dentro?  

Carlos Silvino da Silva -Não, não sabia, eu nunca fiquei com nenhum tostão.  

Juiz Adjunta -Nem sabe como é que era feita a distribuição do dinheiro, entre eles?  

Carlos Silvino da Silva -O Francisco Guerra é que distribuía o dinheiro por eles.  

(...)

Carlos Silvino da Silva -Nunca, nunca entrei em casa de ninguém, nunca recebi dinheiro de ninguém, ninguém mesmo, quer dizer, do dinheiro dos envelopes que me deram, nunca fiquei com nenhum tostão, assim é que é.  

Juiz Adjunta -Nem nunca soube quanto é que os miúdos receberam?  

Carlos Silvino da Silva -Nunca, nunca.  

Juiz Adjunta -Está bem, estou esclarecida, obrigada.  

13.01.05 (em Tribunal)

Carlos Silvino da Silva -... o Sr. Hugo Marçal veio entregar-me um envelope ... e no caminho vinham-me a dizer que foi uma grande festa ... desta vez calhou bem o dinheiro que ganharam. Eu entreguei o envelope ao Francisco Guerra, ele distribui o dinheiro pelos miúdos.  

 

14.09.05 (em Tribunal)

Procurador - (...) Srª Drª, o arguido Carlos Silvino tem repetido várias vezes que eram os rapazes que lhe pediam para os levar às diferentes casas onde eram abusados. Era assim?

Juíza Presidente - Pode responder.             

Francisco Guerra - Não Srª Drª Juíza, não era assim.

Juíza Presidente - Alguma vez, em alguma circunstância, o senhor pediu ao Sr. Carlos Silvino para o levar a alguma casa para ter contactos de natureza sexual, dos que relatou com alguém?

Francisco Guerra - Não, nunca Srª Drª Juíza.

Procurador - Então, isso significa que a iniciativa era sempre do Sr. Carlos Silvino?

Juíza Presidente - Sempre que foi, foi por iniciativa do Sr. Carlos Silvino? Foi isso que quis dizer?

Francisco Guerra - Foi sim, Srª Drª Juíza.

Procurador - O arguido Carlos Silvino referiu ainda aqui no julgamento que quando iam a Elvas era o assistente Francisco Guerra que tirava o dinheiro do envelope e que o distribuía pelos colegas. Era assim?

Juíza Presidente - Prestou declarações hoje, ahn... em que referiu por várias vezes que o Sr. Carlos Silvino recebia um sobrescrito com dinheiro e que lhe dava a si. Alguma vez, que lhe dava a si dinheiro. Alguma vez o Sr. Carlos Silvino deu-lhe o sobrescrito a si para o senhor dar a outros colegas?

Francisco Guerra - Não. Nunca Srª Drª Juíza.

  

17.10.05 (em Tribunal)

Dr. Paulo Sá Cunha -[Referência a declarações de Francisco Guerra num processo disciplinar levantado ao Dr. Manuel Abrantes]. Porque é que declarou isso? Que recebia envelopes com dinheiro e que recebia dinheiro pelas angariações? Qual foi o motivo que o levou a afirmar duas falsidades?  

Juíza Presidente - O esclarecimento que lhe vai ser prestado é: qual foi o motivo que o levou, mas só responde depois de eu fazer determinada advertência, levou a respon, a declarar factos que, em audiência de julgamento, declarou de forma diferente? Compreende?  

Francisco Guerra - Compreendi.  

Juíza Presidente - O senhor pode prestar o esclarecimento. Tem sempre direito a recusar-se a responder se tal puder implicar responsabilidade criminal para si.  

Francisco Guerra - Srª Drª, eu posso esclarecer. Como já tinha dito, relatado ao Tribunal, nessa altura, em que eu prestei essas declarações, ahn... tava com muito medo, ahn... de falar sobre as coisas que me tinham acontecido, sobretudo e... Srª Drª, não me recordo de ter dito as coisas assim, dessa maneira, mas está aí escrito e fui eu que assinei. Ahn... Também estava muito baralhado e muito confuso. Acontece que tou no Tribunal e tenho que esclarecer as coisas como elas foram e o que aconteceu. E é o que eu tenho tentado fazer e estou a fazer.  

Juíza Presidente - Quanto a este último esclarecimento, a razão foi porque, o que declara agora é que as prestou porque estava baralhado e confuso... e estava com medo?  

Francisco Guerra - Sim, Srª Drª Juíza.  

Juíza Presidente - Mas neste último esclarecimento que o Sr. Dr. pediu... é de acordo com o que consta no Auto, seria declarar mais do que declarou, ou de forma diferente com uma maior responsabilidade, do que declarou em audiência de julgamento, para o senhor.  

Francisco Guerra - Sim, Srª Drª Juíza. Ahn... era uma altura muito complicada. Eu não sei como é que lhe consigo explicar isto. O que acontece, o que aconteceu na realidade foi aquilo que eu já disse ao Tribunal. Portanto, o que está aí escrito em relação a isso não é verdade, Srª Drª. E eu tou a esclarecer ao Tribunal que o que aconteceu foi aquilo que eu já disse ao Tribunal. Portanto, já se passou um... algum tempo e eu também não me consigo me lembrar ao certo. Quando eu estava naquele dia, ou como é que estava. Sei que não andava bem e que... era uma pressão enorme sobre mim e... é complicado.  

 

Uma nota final: todas estas revelações têm a ver com a resposta que Francisco Guerra deu a Judite de Sousa sobre o facto de ser ou não o "braço direito de Carlos Silvino. E é uma ínfima parte do muito que há ainda por revelar. O leitor tirará as conclusões que melhor entender não esquecendo que o Tribunal afirma no Acórdão que Carlos Silvino "corrobora os depoimentos dos assistentes."